quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Uma poesia distraída



Uma ausência sem desculpas mas, que merece presença.
A presença de uma ausência consentida, ressentida.
Uma ausência esculpida de vazio.
Quebrando a continua presença da vida.
Aquilo que, naturalmente, não se admite mas, se permite no final.
Da eterna amizade fugidia, se esquivando das convenções.
Mesmo que, integralmente, a culpa seja minha.
Estar presente ao seu sorriso tímido e acusador.
Essa ausência de palavras, das prosas, de versos.
De bilhetes, dos dedos de prosa em conversa afora.
Como se impedindo o outonal das tardes no outono.
Tens razão, quando me culpas de não ser banal, de não ser cotidiano.
De não ter saudades do corriqueiro, da mesmice dos mesmos dias.
Cúmplices por essa saudade, saudades por sermos ausentes.
Talvez seja até mesmo aquela saudade de nós mesmos.
Das lembranças do que outrora fomos.
Dos nossos anseios do que no presente somos.
Do que seríamos em nossos sonhos em comum.
Nessa dinâmica compartilhamos da saudade do ausente.
O doce sabor da ausência de uma saudade carinhosa.
O sabor da saudade com o teor da ausência.
Com a sua falta vestes a sua presença.
De um tempo agora sem tempo.
Por todos os momentos que existimos juntos.
Quando ríamos de tudo e chorávamos por nada.
Dos muitos momentos, do ombro ao ombro, solidários.
Quando ríamos por nada e chorávamos por tudo.
Da ilusão os nossos olhares maravilhados.
Pelo fascínio de ter vivido a ilusão de cada instante.
Essa saudade que a cada momento insisto em reviver.
Como num suplício impedimento do cair das folhas.
Nessa querença desmedida de transpor-se ao tempo.
Quando o vazio é maior que o silêncio das palavras
Quando na ausência não te encontro e tropeço no nada.
Qualquer hora escrevo, descrevo essa saudade de você.
Num momento em que a saudade estiver ausente.
Te deixarei de presente uma poesia distraída.


domingo, 27 de setembro de 2009

A musa



Defronte aos olhos o mar extasiante
Tu és perfeita em harmônica natureza
"Quem pode ser infeliz diante de tanta beleza?"
Cruel distância que nos destina a ausência

Aos olhos meus que a tua imagem não alcança
Morna e mansa a tua brisa canta e não perfumas
As paisagens com teu semblante mesclado
Sorrindo a esperança de um amor divino

Teus versos clamam entre os sons
Das gaivotas festeiras ao ciclo das ondas
Ao sopro magestoso do vento
Flutuas como uma canção pelo ar

Vais em vida como numa canção de amor
A quatro mãos compomos em harmonia
Esta tua felicidade sinfônica reverencio
Com esta ode a senhora dos meus sonhos
A musa dos meus versos de amor

"Canção de amor"

São eternos seus momentos
São mágicos teus gestos
Das teclas, o branco e preto
Brando encanto nas oitavas

Silenciosamente pausas
Desejosos de harmonia
Nessa canção me perderia
Na musicalidade do teu corpo

Meu coração fica a mercê
Nas vibrações das cordas
Tatuo em minh'alma tuas clavas
Pedindo asilo em teu sentimento

Pelo teu amor divino
Sou teu anjo torto
Entrego o meu corpo
Meu par de asas

Em espírito murmuro a prece
Pelas mãos que fazem sonhos
Teu rosto em riso que aparece
Anunciando em versos meu destino

sábado, 26 de setembro de 2009

Brevidade



Adeus!
É o tempo...
Cedo para amar-te.
Tarde para ter-te.
Nessa brevidade da vida.
Levo um pouco de ti.
Deixo um pouco de mim.
Deste desencontro,
Nunca mais seremos os mesmos.
Passamos por este intervalo
Entre a vida e a morte.
Amando-nos, fazendo arte.


quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Um dia o amor




Um dia
Entre tantos...
Entre si os olhares.
Divagando nas dúvidas.
Nas mudas reações.
A indecisão entre os corpos.
A pele molhada...
Corações aquecidos pelo sol.
Entre o sol, os nossos corpos e a chuva.
Clamando carícias, emitindo sinais.
Atentos olhos de brilho inquieto.
Alertando os rumores, os tremores
Incontidos desejos de amar.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Um grão de areia



O olhar quedou oblíquo
A êsmo os pés caminham
São as mesmas calçadas
Pela mesma areia
Insensíveis carícias das ondas
O toque suave da brisa
Não há no horizonte o azul
Mesclando ton sur ton
O mar azulado de céu
O céu azulado de mar
O mudo quebra-mar já não ensurdece
Nas ondas o som sobre o som
Deslizando sobre a areia
Apagando todos os rastros
Somente finda uma história
São as gaivotas festeiras
Um grão de areia
O cisco no olho
O olhar mareado
Essa maresia

sábado, 5 de setembro de 2009

No caminho da luz



Astro rei em tua grandeza
Dourado manto te acalentas
Na maciez da pele te aquece
Refletindo nos longos cabelos
O sedoso cintilar o teu brilho

Na umidade que se faz nos poros
Transpiras o teu perfume na brisa
Moldurando os sonhos e meus desejos
Nas suaves curvas bronzeadas
A tua delicada carmurça de orquídea

Sou cativo do teu olhar afetuoso
Nos rosados lábios rendendo-me inteiro
Em teu sorriso a ternura de amar
Teu jeito feminino de ser primavera
E nos verões se desnudar em flores

Percorro todas as tuas tristezas
Em cada momento dividir teu pranto
Sem buscar todas as respostas
Nem querer saber se vale a pena
Lado a lado, a vida com novas perguntas

Alçando vôo numa viagem da vida
Ouvindo os corações em silêncio
Na tênue linha entre a razão e o amor
Na mesma direção dos olhos nos olhos
No caminho da luz em nós mesmos

A tua presença


Quando acordo pelas manhãs
O sol admirando teu corpo moreno
Vejo em teu leito a luz da janela
Teu suave repouso no branco da nuvem

Olho teus longos cabelos negros
Reluzindo em curvas delineando o rosto
Como posso tanto amor, tanto querer?
Se nem sorriu, se nem olhou para mim

Tantas palavras tuas escritas no ar
Dizem das mágoas que vivem em teu coração
Falam de teus amores, sonhos e canções
Tristes histórias que não tiveram fim

Traduzem as mágoas na tua descrença
Percorrendo os labirintos do desamor
São as juras de amor no coração ferido
Sussurando preces benditas a alma

Como posso te dar a minha crença?
Desejando o milagre da felicidade
Te presenteando com a via láctea
Lembrar-te das coisas belas que há em ti

Entrego a minha paz de todos os dias
Das minhas preces o pedido de ser feliz
De todos os meus sonhos o teu acontecer
Quero te fazer amar e tenho de ti só a presença

Entre as estrelas


Contemplo agora o meu nascer
Depois de tanta escuridão
Buscando em ti a transcendência
Das minhas noites que são tuas

Esvai de mim o viver
Se te faço amar na dor
Do meu querer nas entrelinhas
A minha insensatez em teu ser

Nessa névoa invísivel do medo
Minh'alma se cala cúmplice da tua
O silêncio denuncia tanto saber
Sem saber se só existem juntas

Sentir-te ao lado conviver
Na intensidade de um amor
Tendo-a nos braços aninhas
Perdoas meu desamor embevecer

Neste meu olhar perdido no infinito
Busco o brilho raro dos olhos teus
Entre as estrelas uma órbita celeste
Desejos d'alma que os corpos realizam

Partilhando a tua dor no anoitecer
Sufoco minha alegria no amargor
Tenho as insones noites que caminhas
Pelo desejo de contigo estar no amanhecer

Resplandeces no azul manto da noite
Como as estrelas nas noites inquietas
Detenhas meu amor em segredo
No teu coração deixa viver


Alquimia


Caminhemos não importa para onde,
Estaremos juntos simplesmente,

Pela via onde nossos corações celebrem a paz.

Mergulharemos no nosso mais íntimo desejo

Em busca da dor em si mesma.

Encaremos friamente nosso medo

De termos tudo para não sermos nada.

Contemplei a vida com minha armadura polida.

Com a lança em riste matei dragões.

Construí os castelos da fantasia.

Expandí as fronteiras das possessões.

Cavalguei pela ponte entre os sonhos e as ilusões.
Vaidoso acumulei a riqueza para o ter.
Hoje sou prisioneiro dos meus escudos.

Olho firmemente para dentro dos meus olhos.
Nenhum pigmento me fará rubro a palidez da anima.
A solidão conspirou no curso da minha existência.
De desamor caí em espiral para dentro do meu infinito.

Caí da torre do orgulho partindo-me em pedaços.
De onde, soberanamente, abraçava o mundo.
Vem comigo para que eu possa te mostrar a solidão.

Caminhe comigo com os pés descalços sobre a terra.
Pegue a minha mão trêmula e abrace a minha alma frígida.
Nada lhe será temeroso, se meu coração só existe no anonimato.
Vem mostrar-me o caminho que busco para dar-lhe um nome.
Não importa quantas pedras no caminho terei que pisar.

Saberei que nessa direção não sentirei ainda mais a dor.

Vem ao meu lado, ensina-me as canções para sonhar

E eu as cantarei para seus pés dançarem.

Vem, ensina-me a dançar as canções do seu coração
E dançarei embalando seus sonhos e devaneios.

Vem, abre o seu coração e escreva uma poesia que fale de amor.

Mostre-me o medo dos nossos limites e os erros do futuro.

Vem, soltando a sua voz branda recitando a sua poesia

E a cada estrófe que nela contenha o perfume de cada flor.

E eu me sentirei inebriado com os aromas a cada verso declamado.
E quando a brisa trouxer sua essência e tocar meu coração.
Saberei que és única como a camurça da pétala que te reveste.

Quão doce e úmida é o desabrochar de uma flor madura.
Vem, toque meu corpo e ensina-me à alquimia dos magos.

E dessa química de suores destilaremos a pureza de amar.
Encontrar-te-ei nas entre linhas dos teus versos.

Com o brilho do sol refletindo o seu semblante.

A sua inspiração me fará seguir avante com seu olhar esperançoso.

E em sua companhia saberei chorar todas as lágrimas contidas.
Dá-me a sua mão e ensina-me a voar e voar até às alturas.

Quando na altitude de cruzeiro, mostra-me a liberdade para amar.

Tocaremos as nuvens umidecendo nossas faces e nossas auras.

Voaremos livres pelos corredores de vento em silêncio.

E a cada mudança de atitude consciente, estarei caindo e caindo.

E poderei repousar a minha cabeça em seu ombro solidário.

Um cavaleiro sem batalhas, despojado de armadura e lança.

Sem medo de curvar-se, rendendo-se ao toque singelo de um amor.

Saberei ouvir que não sou hoje mais egoísta do que fui no passado.
Que nessa empírica viajem a esperança semeou em campo fértil.
Para colher a transformação de todo o universo de mim mesmo.

Caminhemos não importa para onde.
Estaremos juntos simplesmente.

Pela via onde nossos corações celebrem o amor.