domingo, 20 de janeiro de 2013

No encantar das estrelas



Memories of Green - Vangelis


Quando a noite pousa nos pássaros
No encantar das estrelas que vestes
Repousas nas tuas asas de leito
Num confronto ao trono dos deuses

O Olímpo de purgatório dos onipresentes
Na existência crua dos semideuses

Ao peito acolhes nos braços a noite
Sois o exílio dos laços maternos
Sobre o manto da solidão de todos
A nua existência sobre o travesseiro

Cedo ou tarde a sorte ou a morte
Num sonho à deriva que lhe vem à boca

Reacendes das cinzas o minuto de fogo
Nas palavras recolhidas do jogo
Do indecifrável mistério da vida
Resta-nos nada, resta-nos tudo

Resta-nos quase o que poderíamos ser
Sem antes morrer com a perfeição dos mortos

Pensamentos que tudo arrastam
Devastando as dunas e os oásis
Na quietude calada da fronha
As lágrimas absorvendo as dores

Pedaços de sonhos dispersos no ser
O que a vida observa e não responde

Sonhos da ânsia de presentes deleites
Reféns do delírio de outras lembranças
No desejado sabor doce de outros frutos
No passado intocado das copas das árvores

Não morrem do sonhar como destino
Os sonhos que sonhara sonhar em sonho

O silêncio teima em pulsar o coração
Na respiração lenta do vento
Acalentas nas mãos o tato descrente
Na presença de outro corpo que inventas

Intocada carência na carícia da alma
No diálogo silencioso da mulher que te fazes

Agora não és a mulher que adormece
De vastos oceanos e imensas vagas
Num inventar de sonolentas carícias
Apenas dormes no despertar da criança

Sobre o mudo criado os ponteiros observam
Na janela do sonho o amanhecer do novo dia