quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Frutos da Pedra


川井郁子 Ikuko Kawai 死ぬほど爱して Sinno Me Merro[嵐が丘.Live.Concert.Tour.2005]

Pessoas de ruas vazias
Cheias de fartos silêncios
Andam nuas de sentimento
Vidas de corpos do avesso

Sangram-se em desamores
Horizontes poentes sem sol
Flores isentas de cores
Frutos de sementes estéreis

Pétalas perpétuas de adeus
Trevo de quatro expurgos
Mordes, mastigas, salivas,
Um paladar sem tentação

Paixões ausentes de sabor
Nem o doce, nem o azedo
Nem o adstringente egoísmo
Só o vermelho de carne morta

O caminho de volta sem raíz
O chão repleto de vidas caídas
Pessoas ávidas de si e de lua
Selvagens violetas desnudas

Mergulham no rio de trevas
Como borboletas sem asas
Flutuam no escuro imune
Pessoas e imagens sem reflexo

Vagalumes dependentes invisíveis
No refluxo retrocesso das luzes
Se apagam, se partem, se varem
Entorpecendo as almas

A vida tem a droga
Intoxicando suas vidas
A vida é uma droga
Envenenando seus corações 

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Ascendendo Estrelas


Paco de Lucía Concierto Aranjuez - Adagio


Se Jogo as boas pedras ao céu
Se fossem ressoar em círculos
Como cidades rodeando pessoas
No azul ricocheteando estrelas

Memórias cheias de escuro
Das festas de cruz nas ave marias
Invento as frestas nos feixes de luz
Nas penas das aves marinhas

O gelo dos cumes brancos
Confundindo as nuvens
No contorno dos seios
Derretendo o sal na pele

A sede molhando a água
Na saudade poente que deságua
No fogo que arde na boca
Do beijo ausente que roubastes

Tinha o cheiro da maresia
O barulho ausente das ruas e vielas
O coração enchendo as crateras
Vestia de nua, como a noite veste a lua

Despida do desejo de ser só tua
No vasto campo azul pisando nuvens
Um sol brilha partido em duas faces
Entre os olhares das bocas em silêncio

Pálidas visões do carente futuro
A seiva bruta do tronco sem raízes
Os frutos sobem ao chão de nuvens
Deixando o gosto infinito do amargo

Aquece o sol iluminando dia
Sublimando amores ao léu
Dois corpos atrás do véu
Semblantes no imaginário

Colhendo as dores da noite
Na infinita escuridão dos desejos
Nas onduladas nuvens marejadas
Só, escolho as pedras de fazer estrelas

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Destratados das Tordesilhas


INSENSATEZ (Tom Jobim & Vinicius de Moraes) Pedro Aznar e cecilia echenique

Em majestosos versos em turba lírica
Faz das palavras os teus malabares
Do erudito para a pseudo-sapiência
Saciando a ira dos seus verbetes

Inculta e bela é a flor do lácio
Semi-nua de jóias raras e soberba inútil
Nos brocados não lhe fazem o brilho
Mas na simplicidade inata faz-se bela

Correntes feudais do imaginário
Esporões metálicos de sua nobreza
Nos amplos salões da supremacia
Com as mãos vestidas de cortesia

Do alto das torres contemplas o ego
Nos bailes de máscaras se faz pessoa
Na pobreza alheia se faz riqueza
Encontre a plebe ao saires pelos fundos

Tecem estratégias na escuridão
Planos de guerra e de possessão
Somam alianças com almas perdidas
Na iniquidade mediana da ignorância

Santa irmandade nos feixes filosóficos
Ranço feudal no contemporâneo
Sorvedores de energia dos vassalos
Buscam n'outros olhos igual preconceito

Não se sabem reinantes nesse castelo
São relés transeuntes entre os alicerces
São pobres mortais na própria realeza
Pelos salões e platéias são só passantes

Inculta dos berços romanos
Restará em sua magnitude
(Protetora materna dos humildes!)
Inculta e bela é a flor do lácio
Todo resto são passantes


Venho com salvas de despedida,
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Para tornar-me inteiro


川井郁子 Ikuko Kawai [嵐が丘.Live.Concert.Tour.2005] 4. The Way We Were 追忆

Oh!  Amores estáticos no vento
Na ilusória vida mundana
Esvais teu sangue em chafariz de flores
Gotejando sobre todos passantes

Se a sobrevivência me persegue
Feito um papiro afoito pela caneta
Preciso urgente da tinta envenenada
Para nesses versos me tornar peçonha

As repousei nas folhas
Deitadas nas entrelinhas
Mas para que tantas poesias
Se há tão poucos loucos?

Sábias estórias que não contei
Como as que encontrei no vento
Voavam soltas, sem nome
Sem corpo, sem destino

Se escrevo em meias palavras
Para tornar-me inteiro
Não sou metade, nem sou meio
Sou um veneno rarefeito

E nas palavras roucas de clamar
O bálsamo perdido de amar
Findou-se o bem e o mal
Restou-me a dúvida de ser

Esse imenso deserto de saudades
Recordações se movem feito dumas
Criando miragens de outros tempos
No horizonte dos meus sonhos

Como um sol marcando as horas
A mão nos ponteiros do tempo
Escrevo nas folhas o meu caos
Restar-me inteiro na eterna poesia

Dissabores do desencantamento


Heitor Villa-Lobos - Melodia Sentimental

Tropecei no encanto
Falei com o sapo:
-O que há de melhor em mim?
Disse-me ele com espanto:
-Tem muito mais sabor nos insetos
que na tragédia humana.
Depois que morro, todos os insetos me saboream
Digo então:
-Tens razão!
É que estou cansado de ser humano

sábado, 17 de novembro de 2012

Eternos versos




.Pedido perfeito
Pedido como criança
Uma máquina do tempo
Brincando de zigue-zaguear

Te tornarias eterna
Um sol marcando as horas
Nos ponteiros do relógio
Feito folhas o tempo cai

Se esvais em chafariz de flores
Gotejando sobre os passantes
Nos amores estáticos do vento
Tanto  na vida quanto mundana

Se a sobrevivência persegue
Um papiro afoito pela caneta
Num preciso veneno
Para  tornar peçonha

Sábias estórias de não contar
Como as encontras no vento
Para que muitos poemas
Se há tão poucos loucos?

Se escreves em meias palavras
Para tornar-se  inteira
Não és metade, nem és meio
És rarefeita

Vem ler-te para tornar pessoa
À toa, a-toa furtando versos
Vivente numa canoa
Na proa vagas do tempo

Ah, essa alquimia
Reconhecidas no piscar do vento
Entre substâncias raras
Na mistura das essências

Substâncias de encantamento
Decantas no exato momento
Do nascer do terceiro elemento
Num simplório amor em versos

Você pode tocar o céu?


川井郁子 Ikuko Kawai [嵐が丘.Live.Concert.Tour.2005] Scarlet Letter


É preciso reaprender a ser feliz
Esquecer de ser adulto
Nesse olhar de velho
De sentir-se obtuso
A resmungar-se ao tempo

É preciso reaprender a ser feliz
A brincar de ser caduco
Esquecer a dor das juntas
E juntas as mãos irmanadas
Espalmando a água da chuva

É preciso reaprender a ser feliz
Gargalhar aos céus pelo avesso
Nas espontâneas peraltices
No reinventar da vida
Reinventando-se para ser feliz

É preciso reaprender a ser feliz
Reaprender a inocência da criança
A compaixão no olhar das orações
Com os pés descalços das alamedas
Recriar um coração alado alçando voo

domingo, 4 de novembro de 2012

Folhas em outubro



Dohnányi Orchestra Budafok - Conductor: Istvan Sillo
Violin: Katica Illenyi, Ferenc Illenyi, Csaba Illenyi
Cello: Aniko Illenyi - Libertango A.Piazzolla


Perdoas a lágrima que insiste
Em transbordar aos olhos
Essa vontade em viver
Morrendo num grande amor

Teus pés em folhas soltas
Tapete mágico aos retalhos
Mãos dadas em outono
No olhar aéreo sobre a grama

Ressoa em fina névoa
O horizonte sobre o tempo
Vagas triste nos meus sonhos
Sem nome para o teu rosto

Ausente corpo sem formas
Apalpo no silêncio do vento
Meu profundo universo
A tua idéia que me basta

A ausência tua reconheço
Mas no próprio amor resisto
O teu olhar deserto de saudades
Da pele o teor das alquimias

Das folhas sem verdes cores
Voam soltas sem nome
Sem corpo, sem destino
No abismo do meu sonho

Perdoas a gota que sangra
Teu coração sem existência
No obscuro silêncio da dor
Reconstruo-te com a ausência