sexta-feira, 28 de junho de 2013

A paixão errante das palavras

Djavan - Oceano

http://www.djavan.com.br/site/

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A paixão errante das palavras

Meu tempo não se apaixona
Vive num corpanzil errante
Absorto na busca da palavra certa
Aquela que reconheça a tua paixão exata

A minha emoção existe no desencontro
Quando o teu amor se torna escrita
Naquele momento indescritível
Do repouso deitado em teu corpo

O teu pensamento olha a janela
Sonhando o desejo n'outro corpo
Na paisagem chuvosa que descreves
As tuas curvas e a pele molhada

Apaixone-se pelo que te escrevo
Não por mim, pecaminoso aprendiz
Mais perto do fim que um recomeço
Apaixone-se pelo teu amor que descrevo

Se mal fiz para que se apaixones
Só bem te quis em palavras inteiras
Na paixão errante do presente
Que se perde na solidão das palavras

Na moldura a vida pincela os traços
Da vaidade descolorida restou o grito
Do tempo disso e do tempo daquilo
Tramei o parto do tempo no nada

Meu passos intranquilos no pensar
Não há porquês de não chegar
Nem a escuridão ou a luz do lugar
Para chegar preciso apenas do fim

Para escrever aquele momento
Em que tu caminhas ao vento
Na poesia as palavras soltas
Na tua fragrância que ficou no ar

segunda-feira, 24 de junho de 2013

No gotejar da chuva


Why Should I Care ~ Diana Krall

A chuva veste a tua pele nua
Em silêncio entre o céu e a terra
Flutuas suspensa como a lua
Num ensolarado vestido de arco-íris

Milhares de gotas desajeitadas
Caem na vaidade constrangida
A enclausurada fragrância é libertada
Da mulher quando tu és chuva

Se distrais multiplicando as cores
Luzem milhares pelas tuas íris
Todos os brilhos dos cristais
Quando exalas o calor do sol

O pecado ruboriza os lábios
As gotas molham a tua boca
O desejo insaciável do sorriso
No clamor do olhar envergonhado

Entorpecido gosto de saliva
No sonolento tempo do beijo
O vento não sopra sobre a pele
A respiração que nos olhos encerras

Choves pelo corpo dos homens
O sonho molhado dos desejos
As gotas que deslizam pela pele
Na voz da sede interrogando os céus

Como a sombra que não se agarra
Como a chuva que não se aprisiona
O assombroso desejo de água
Sinto no corpo a sede de chuva

O amor que deságuas da nuvem
O desejo sobre todas as coisas
Na água que germinas à vida
Nas gotas o doce sobre o meu oceano

quinta-feira, 6 de junho de 2013

No futuro talvez presente


Leman Blick Bassy-[NLAL]  is the new soul voice of Cameroon - soul in the sense of vocals that come from within. Bassy says: “The soul of my music isn't... http://www.myspace.com/blickbassy2

No caminho que partilhastes a vida
Sejas meu aprendizado do sobreviver
Da tua vida que nos faz viver
Viver para depois não saber morrer

No futuro talvez presente
Deixas em teu corpo o meu viver
No amor que nos faz renascer
Te amarei no eterno para não morrer

Serei o arrepio que te percorre o corpo
Caminharei sobre as tuas águas
Entre os teus vivos, os teus mortos e os quase vivos
Na mesma dor, em tua agonia e na tua solidão

Na ilusão que me vem aos olhos
Sobre o teu corpo desfolharei o mundo
Na insônia da paisagem da tua pele
Nos teus sussurros noturnos do tempo

Serás o meu caminho de ida
No caminho que vive em mim
E não sabe voltar no escorregadio vento
Traz na tua fragrância o teu rosto desenhado

Na minha escuridão de própria vida
Sentindo a visão angustiosa do mundo
Teus olhos de universo olharão dentro de mim
Extraindo da alma o sono da dormência

Do amor da beleza fixa do universo
Crias mãos, cabeça e coração
Salta aos braços dos corpos celestes
Se esgotando na transpiração dos verbos

Salgas o amar conservando o sagrado
No mistério da morte a fatal trama
As tuas mãos do tempo desfia a vida
No vento que leva a cor dos teus olhos

A noite emudecida caminha pelas ruas
Nas palavras que dormem nas calçadas
Os passos de um silêncio fantasma
Traz-me a ideia da tua ausência

domingo, 2 de junho de 2013

Todas as poesias


Maria Rita - Tatuagem [chico buarque]

Despe o poema a tua roupa poética
Nas estrófes cantando as tuas curvas
Nas rimas plagiando os teus ais
Nos rubros lábios o sabor das uvas

Versos invejosos do brilho nos cabelos
São rabiolas negras balançando no ar
O encanto mágico das crianças
Teu sedutor encantamento de amar

Suaves traços na tua pele branca
Na transparente luz prateada da lua
Tuas mãos recolhem as estrelas
Sobre o teu colo, brincas, seminua

Pela branca renda descortinas
A tua sombra plena de mistérios
Frases entre as linhas do coração
Dos teus segredos mais sérios

Sedutoras fragâncias na pele
Inúteis palavras vem decifrá-la
Vão ao encontro das tuas mãos
O suave desejo de recitá-la

Estrófes se avolumam em rimas
Rimas pobres, frágeis, ambiciosas
Sobrevivem da inveja embelezada
Nas imaginárias fronteiras fantasiosas

Verbete algum definirá teu corpo
Enganosas coletâneas em teu louvor
Somente um singelo gesto teu
Quando no teu silêncio rimas o amor

Efemeridades


Maria Rita - Me Deixas Louca [Armando Manzanero]

Se a indiferença caminha no teu olhar
Na dança do vento que abre a cortina de chuva
Das copas das árvores, o verde colorindo as folhas
Da terra molhada o perfume à tua natureza

E mesmo assim...

Se a urbanidade faz a diferença no teu andar
O cheiro molhado se perde de terra e de verdades
O silêncio da noite se falseia dos gafanhotos
No brilho dos olhos não há pirilampos

O mesmo então...

Quando a areia corria por debaixo dos pés
A mão contrariando a corrente na beira do rio
Quando a primavera corria nas flores do campo
Era o tempo do corrupio da passarinhada

O mesmo fim...

Era um caminho velho que não sabe voltar
Perdeu-se nos falsos caminhos do mundo
O verde, o amarelo se avermelharam nos sinaleiros
O vento e a chuva, o sol erguem-se no vidro das janelas

O mesmo amor...

As árvores farfalham nas tintas da tela
Os verdes campos ventam nas aquarelas
O amor já não voa dourado na gaiola
De tão perfeito morre dos teus arranha-céus