sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Amor, o amor que se esvai do tempo


Eleni Peta performing live "O Mare Tu" with the Plucked String Orchestra of the Municipality of Patras. Greece.

http://www.elenipeta.gr
Eleni Peta was born in Thessaloniki in Northern Greece. She is a classically traned singer and clle player with studies at the National Conservatory of Thessaloniki and Attica(Athens). Her first performances were on a national tour with established Greek artist Nikos Papazoglou. Since those early days, Eleni has worked and performed with the "who is who" of the Greek music world(singers and songwriters/composers).
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Melancholia - por Albrecht Dürer

Amor,  o amor que se esvai do tempo

Acorda a vida, amor, é a vida
É o tempo no meio do dia
Um anjo calado deixou um legado
Dizia um nome perpétuo "melanê kolê"
É o tempo no sentido do mundo
Esse tempo que não passa, não passa
Só mexe os ponteiros de coisas vazias

A aorta pulsa, amor, de redenção? 
É o coração na contração do tempo
Estamos tão carentes de recordações
Nem o bem, nem o mal, nem a culpa 
Nem sei desses tais velhos valores 
Só há o tempo sem a experiência 
Nem Deus quer saber de escândalos

Na sua porta, amor, um anjo caído?
Tem uma criança dentro d'um cesto
A pele manchada com uma bílis negra
Isso vai virar manchete sensacionalista
Quem se importa com o ensinamento? 
Convém o aprendizado pela convivência
São os impactos tão súbitos quanto breves

Na tua fala, amor, há uma acidia 
A tua voz está numa encruzilhada
Onde o monótono cruza com o vazio
Tem um nó na garganta que te engasga
É preciso o excesso da droga, da comida
Promova as guerras em nome da paz 
O tempo é que precisa ser esquecido

O teu corpo, amor, passante no tempo
Uma grande soma de muitos valores
Nem atual pelo número de série
Nem obsoleto pelo valor de troca
Tantos cuidados pelo valor de uso
Tão desejado como um belo objeto
Um corpo e as paixões de um anti valor 

São as rugas, amor, de um não-amor
Era vazio o tempo da nossa morada
Ou éramos nós que não estávamos em casa?
Eram os monges dos mosteiros em jejum
No mármore gelado o sentido do mundo 
O amor "akedia", "tristitia" em cadáver insepulto
As memórias, as estórias da terra, formou-se o "atraso"  

O teu amor, amor, segura o queixo de Rodin 
Nasceu no devir do tempo sagrado
Ao tempo infinito das repetições se desfez
No templo do culto profano dos fetiches
O tempo repetitivo da monotonia e da morte
No tempo que tudo é exibição e mercadoria
O amor é produção, é objeto repetido ao infinito 

Dorme a vida, amor que dorme
É o tempo no meio da noite
Um anjo calado deixou um recado
Emudecia o nome perpétuo "esperança"
É o que faz girar o sentido do mundo
Nesse tempo de sonhos tão modernos
Onde se mexe os tinteiros com penas vazias

No tempo do vazio, no tempo do tédio e da melancolia
Afinal, quanto é que estou valendo hoje?

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Walter Benedix Schönflies Benjamin (Berlim, 15 de julho de 1892 — Portbou, 27 de setembro de 1940) foi um ensaísta, crítico literário, tradutor, filósofo e sociólogo judeu alemão.  
Paris Capital do Século XIX.  BENJAMIN, Walter. Magia e Técnica, Arte e política.pdf
http://minhateca.com.br/atilamunizpa/Documentos/BENJAMIN*2c+Walter.+Magia+e+T*c3*a9cnica*2c+Arte+e+pol*c3*adtica,2877550.pdf