sábado, 11 de dezembro de 2010

Esse Desejo


Desejo um Feliz Natal, mesmo que simplório
Mas com sentimentos profundos e intensa empatia
Sinceros, transparentes e verdadeiros

Desejo que a mesa seja farta, bonita e enfeitada
Sem que sejam esquecidos a cozinheira,
a lavadeira, o cachorro, o gato e a missa do galo

Desejo que diante da ceia sempre caiba mais um
E alguns lugares estejam reservados para os ausentes
Pois estão sempre presentes em nossos corações

Desejo alegria, harmonia e nenhum porre
Entre Drink's e a alegria estejam as canções

Desejo os presentes mais criativos até
Aos mais sofisticados eletrônicos
E acima de todos os presentes
Que o mais simplório entre eles seja o amor

Desejo o sabor das guloseimas sem culpa
Que mais que o calor seja o frescor da chuva
Para depois na madrugada o céu se abrir
Pleno de luar cintilando todas as estrelas

Desejo no amanhecer mais fôlego e resistência
Pensamento voltado aos sonhos do Ano Novo
Que sejam poucos mas fiéis e sem tamanho
Mas que em todos os sonhos contenha a felicidade

Desejo que todos eles se realizem plenos
Senão todos, apenas alguns, mas se nenhum, sem neuras
O sonho não morre, como tudo, na vida ou na morte, se transforma
Reconheçamos no final do ano que estamos íntegros
Afinal a vida continuará sempre em movimento

Desejo a sorte de todas as simpatias e cores
Vestindo branco, dourado ou pulando ondas
Num banquete de frutas sobre a areia
Tabuleiros de búzios, tarot e muita proteção
Muita paz e esperança para o ano inteiro

Desejo um pouco mais que o Feliz Ano Novo ou Velho
Que nele esteja o Feliz Aniversário
Aquele bolo necessário, a velinha simbólica
Mas ao teu redor tenha inúmeros, dezenas de amigos
Comemorando mais uma árvore em teu pomar

Desejo um Ano Novo pleno de musicalidade das palavras
Que a cada sílaba que entoas suavemente encantas
Poesia e melodia juntas na sonoridade das canções

Desejo a sensibilidade sobre a pele de uma flor
Em harmonia perfeita, pétalas, pólem, aroma
Se fazendo rarefeita entre bemóis e sustenidos
Tal sopro de vida, corpo e alma em maestria

Desejo que se faça em poesia para o novo ano
Mãos hábeis, pensamentos a mil
Os versos em folhas ao vento em teu jardim

Desejo muito desejo de inspiração e desafios
Aos céus que sempre agradeço pela luz em companhia
Graças a esses desejos, desejo no Ano Novo, o que tenho
Um primoroso Feliz Ano Velho

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A Escolha


Um elo somático para um mundo pronto
Explica -se tudo aos donos de nossas escolhas
Se tudo escolhemos para sermos escolhidos
Seremos especialistas salvo de nós mesmos

Nascimento, vida e morte
Os meios se justificam aos extremos
Em curso na estrada da frágil vida
A origem, um caminho, e o comum destino

Turistas, peregrinos, viajantes
Boas escolhas em serem escolhidos
Escolha, escolhas, escolham
Principia a grande viagem pela vida

Se turistas somos acariciando o ócio
Origem e destino no afã do retorno
Aos olhos a beleza e tudo se faz efêmero
E a face oculta da vida reles despercebida

Se peregrinos somos o exercício de fé
Empenhando-nos a uma alma pura
Das tentações e perigos nos esquivando
Do fracasso saberemos pouco dos pecados

Se viajantes somos com escassa bagagem
Aos olhos da compaixão, a bondade, o medo
A coragem de seguir além do destino
Deixamos o melhor de nós mesmos
Viajantes levaremos o aprendizado

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

O Abraço ausente


Sob um céu sem estrelas
Nas noites urbanas e ruas vazias
Indiferente aos ruídos indistintos
Um rosto procuro no anonimato
No tempo consagrando as horas

Tão longe, tão longe...
Imagino o som do quebra mar
Sentindo a passagem do vento
No ar o cheiro da salinidade

Pudera sentir teu rosto
Vê-la olhando para o céu
Procurando o brilho dos teus olhos
Quiçás encontrá-lo entre as estrelas
Realizando a alegria pelos sonhos

Não brilhas se dormes como deusa
Com as pálpebras cansadas pela espera
Com teu rosto despido do sorriso
Reluzindo os cabelos longos como a seda

Pelo semblante sereno em repouso
Sigo ao encontro de um par de mãos
No gesto mudo da mão o vazio
Na outra palma a saudade
No silêncio se entrelaçam na solidão

A razão desconhece os mistérios
Como tudo é tão bonito como a vida
Tanto amor de não querer findar
Poder viver por tamanha beleza
Mesmo morrendo nas entrelinhas

O Desejo de amar


Fecho os meus olhos para ver-te
A cada linha delineando teu corpo escrevo
Na suavidade dos contornos o meu insano desejo
Transcendendo teu físico nas múltiplas mulheres

Para cada mulher que em teu corpo existe
Fragmento minha essência, multiplico e dou crias
Vivendo a poesia em ti a cada mulher que ama
Brotando de um único tronco em variadas orquídeas

Fecho meus olhos num abraço amante
Corpo a corpo, coração no mesmo compasso
Sem palavras, promessas, a entrega somente
Mesclando as almas na mais pura das essências

Sou um náufrago refém em mar revolto na tua paixão
Mergulhando em teus abraços num caminho sem volta
Desejando-te mais que o sonho, um suspiro, uma madrugada
Ser o teu âmago e seu culpado, cúmplice e condenado (pelo amor)

O luar refletido na pele dos corpos difusos
As mãos desvendando nossos segredos
Teus aromas aflorando os desejos
Em cada sabor que doas o meu beijo

Derramarmos sobre a flor o orvalho da manhã
Saciar nossa sede de todos os desertos da solidão
Quando as forças cederem subornando o anseio
Na paz cúmplice dos amantes suplicando trégua

Estaremos em órbita admirando o planeta
Inexiste o Tempo, não há noite ou dia
Tua presença o único encontro e destino a ser vivido
Renascendo a todo instante o profundo desejo de recomeçar

Nos lábios que se beijam em perfeita alquimia
Sede e saliva, Amor e desejo, harmonia
Emerge das entranhas o nosso ensejo
De temperança na mistura entre almas

Deslizam pausadamente sobre a Tua pele úmida
Num beijo contínuo os lábios pelos teus contornos
Somos a intensa cumplicidade entre dois corpos
Temos o maior tesouro entre os Desejos.
O infinito desejo de amar.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Sensação objetiva


Que palavra exprime
Entre múltiplos significados
Perdendo-se ao definir meu sentimento
Entre a repulsa e o desejo de ser teu

Que palavra seria plena
Numa somatória de letras
E a cada letra uma sigla de um nome
E a cada um deles um sentimento único

Que palavra seria eu mesmo
Quando desejar ter e ser e não conseguir
Com um gesto mudo entre mil palavras
Permaneço surdo ao dizer teu nome

Que palavra define o aroma de terra
A relva molhada e o amanhecer
O teu cheiro na cama entre os lençóis
E a falta de calor na tua ausência

Que palavra caberia justa
Vestindo a mão atrofiada em uma luva
A revelia sentenciando a forma abstrata de ser
Na cega justiça dos homens em ter

Que palavra define uma atração
Se ao corpo não interessa o desejo
E ao próprio sentimento se supera
No afã materialista da útil praticidade

(..........................)

Que palavra define o nada
Traduzindo o engano em si mesmo
Na inteligente forma de pensar
Muito acima do próprio amor

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Canção de amor


São eternos seus momentos
São mágicos teus gestos
Das teclas, o branco e preto
Brando encanto nas oitavas

Silenciosamente pausas
Desejosos de harmonia
Nessa canção me perderia
Na musicalidade do teu corpo

Meu coração fica a mercê
Nas vibrações das cordas
Tatuo em minh'alma tuas clavas
Pedindo asilo em teu sentimento

Pelo teu amor divino
Sou teu anjo torto
Entrego o meu corpo
Meu par de asas

Em espírito murmuro a prece
Pelas mãos que fazem sonhos
Teu rosto em riso que aparece
Anunciando em versos meu destino

Pelas palavras


As palavras que ontem voavam soltas
Sem sentido como a vida esguia
A vontade da alma quando o corpo seguia
Estas mesmas palavras aguçando o presente

Agrupando-se, declarando a tua falta,
impunemente...
Denunciam sem lógica distância o teu amor
N'algum lugar extremo, no vazio das minhas mãos
Rebeldes palavras num jogo de frases em nãos

Formando um sentimento de vida própria
Represando águas, refletindo a tua ausência
Numa superfície de sinônimos da minha imagem
Reescrevendo as gotas de chuva sobre a tez
Mesclando-as em lágrimas tais poesias e canções

Criando aos milhares os meus sonhos e fantasias
Trazendo a miragem dos teus olhos aos olhos meus
São tuas palavras que correm soltas pelo vento
Em ventanias elevando as folhas, a areia da praia
Formando as ondas na superfície das tuas pegadas

Um corpo moreno de sol em adjetivos plenos
Sob os guarda-sóis com o dia a pino
Palavras buscando palavras
Perdidas numa tardia praia deserta
Recolhendo palavras como conchas vazias

Criam vida, rebeldia e denunciam
Que o amor aconteça antes da morte
Aprisione-as antes que tardia em poesias
Antes que tarde seja como morrer de amor
Pois se morro em palavras, não te digo

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Pintassilgo


Pintassilgo, pintassilgo
Pinta em seguida o amanhecer
Colorindo-o com todas as cores
Mas não cante ainda
Fazendo a noite se calar
E a cantiga do silêncio se abster

Pintassilgo, pintassilgo
Pintalgando o negrune do céu
Deixa fluir da lua o brilho
Refletindo em tuas asas negras
O lume reluzente das estrelas


Pintassilgo, pintassilgo
Gorjea feito um pintarroxo
Cantando em suave trinado
No alvorecer do novo dia
O segredo de ser feliz

Pintassilgo, pintassilgo
Pousa na soleira da janela
Anunciando o raiar da manhã
Desperta na mulher que dorme
No dorso o verde das montanhas
No ventre germina o calor do sol

Pernas sem rosto


As pernas passam
Tão apressadas pela rua
Como num jogo de palitos
Tirando a sorte
Corpos em inércia
Pensamento imóvel
Cabeças sem rosto
Olhos atentos à direção
Olhar sem sentido
O obscuro dia do amanhã
Algumas pernas a mais ou a menos
Novas, móveis, paralisadas, inexistentes
Misturam-se todas no amanhã
São pernas apressadas buscando a vida

sábado, 11 de setembro de 2010

O longe que existe


Num tempo tão longe de tê-la
Pela distância que sobra entre dois corpos
Pelas tantas paisasgens alegres ou tristes
Talvez os inúmeros amanheceres mais fiéis
Que os anoiteceres foram repousantes
Percebo no insistente esquecimento
Entre nós ficou tão longe
O longe que não é saudade
O longe como um lugar que existe
Um lugar como a vida que nos separa

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Praia dos anjos


Hoje resta o que reservo
Em silêncio apenas observo
Diante dos olhos a vida
E a incerteza sobre a verdade

Outrora sobre a areia branca
Um castelo sem tranca
Repleto de sonhos e dormida
Sem tempo de adversidade

Inocente acuidade cristalina
Transparente musselina
Tremulando sob a onda
A fina areia branda

Num meio-tempo sem tempo
Numa praia sem nome no Olimpo
Possívelmente a dos Anjos
Porventura a dos arcanjos

Lá te encontro sem nome
Segurando a mão no andaime
No muro da minha fortaleza
Num gesto de sutileza

Por onde andará esse rosto
Por entre o labirinto em desgosto
O tempo sem tempo, sem vida
Fez divergente o meu destino

Nesse idílio diante do mar
Na utopia de ser feliz
O destino irá consumar
Enquanto vivo o que não fiz

No momento do alvorecer
Emergindo do mar o sol nascente
Escrevo esse verso poente
No caminho bifurcado carecer

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Desencontro de almas


O coração pulsa plangente
Que a saudade persiste latente
Na alternância do sol e da chuva
No sabor o azedo e o doce da uva

A ilusão reclusa dos amores
Cravando no chão os rancores
Com raízes profundas daninhas
Para resistir solitário as ventanias

Nos sonhos passou a amada
Olhar perpassando o público
Malabaris por um amor idílico
Perdido na longa caminhada

Tão ansiada que não a tenho
Fez-se de amada por si mesma
Engano meu a esperança prisma
De fadada sorte nem sou advinho

Sequer a felicidade passou a porta
Circum-navegou a profetizada amada
E o amor em sangradouro pela aorta
Palidamente restou-me a deriva

Não existe paz no desencontro
Pois sei, mas resisto em claustro
Na insistente procura do não acharás
O amor que procurei ao Deus-dará

Nada importa se resisto ao tempo
O quanto de desespero e solidão
Nada será maior que o sofrimento
Dessa ausência em mim

segunda-feira, 7 de junho de 2010

A tua presença


Caindo a folha suave pelo vento
Como se acenando dissesse adeus
Num desatino segundo em mim desperta
Que os momentos passados já não são meus

Que a saudade que desenha sobre a água
Os finos traços do teu meigo rosto
Num leve ondular do espelho ao meu gosto
De a expressão da esperança do teu sorriso

Mas o vento da solidão nas minhas horas
Num frêmito nos teus cabelos realçados
Entre fios negros reluzindo estrelas
Declinando as pálpebras como se oras

Que assim o seja teu aroma no ar
Numa melodia de acordes aflautados
Todas as cores brandas das aquarelas
Num sinal da cruz a nos abençoar

Esquecido sou nas horas do tempo
Que um trevo nas páginas do livro
Separou as vidas entre os capítulos
E a cada recomeço num contratempo

Escritos na linha da vida e da morte
A dupla linha na palma das nossas mãos
Como a imutável órbita do sol e da lua
O destino e os amores à mercê da sorte

Alvorecer-me-ia em múltiplos pseudônimos
Amando-te nas múltiplas mulheres diferentes
Nas noites sem luar e em cada novo amanhecer
Despertando-te arejada e sem termos

Mas olhando teu retrato imóvel, sem desnível
Transborda-me que preciso da lembrança
Para saber-te muitas, orvalhada e imprevisível
Obscureço a tua imagem para sentir tua presença

segunda-feira, 31 de maio de 2010

A flor rosada



Sobre a mesa uma rosa
Com espinhos como a vida
Aos poucos desidrata no seu tempo
O vento sopra carregando as pétalas

(Estou mudando de residência.
Brevemente estarei com as mensagens
atualizadas).

Uma estória dentro da concha



Em nostalgia a tarde cai
A chuva chorando devagar
Sobre a areia só o vazio
Dos teus passos nem sinais

O tempo compassando as ondas
Saudades de uma breve estória
Do vento passando em memória
Noutros tempos de horas sem fim

Hoje os pensamentos vão e voltam
Como a alternância dos dias e das noites
Quando morrendo na tarde cai o sol
Na triste solidão da uma lembrança

Um feito amor bálsamo e alegria
Sangrando amor de dor e agonia
Um amor soluçando ao coração
Com medo de amar um desamor

Pelo tempo um desencontro
Num tempo sem tempo de amar
Atento a concha sobre o ouvido
Sentindo os teus olhos sobre o mar

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Manhã


Ilumina
A noite se desfaz na intensa claridade
Festivos chilreios na acuidade
Trazendo o cheiro da manhã
Clareia
Revelando o corpo que seduz
Suaves traços a meia-luz
Salientes no enlevo do alvorecer
Imagina
Tua ingenuidade da infância
Crescente vigor da exuberância
No tempo espôntaneo de ser
Germina
Qual velho jardineiro que insiste
Envelhecida mão que resiste
Regando perseverança nas manhãs
Orvalha
Na terra seca e nas ervas daninhas
Sem pousada para as andorinhas
Disformes canteiros de um jardim
Floreia
A semente da paixão latente
A saudade do beijo renitente
Nascente desejo que não tem fim
Anoitece
Tão próximo o coração em ciranda
Macia pétala de pele branda
Transbordas perfumando o ar
Sacia
Na pequena taça de essência
A Divina oferenda me acracia
Tempo da sutil beleza de amar
Macia
Ilógica harmonia entre duas bocas
Ruborizado desejo entre vozes roucas
Cerrando os olhos transbordando

domingo, 21 de março de 2010

Aos pés da montanha



Como é longa e curta essa estrada
Morrendo aos pés da montanha
Plena de nuances, curvas e obstáculos
Vida de viver com vontade tamanha

Alguns param sem uns poucos passos
Ao longo desse caminho que todos começam
O caminho do meio para outros lassos
Há os que a dor de uma saudade carregam

Aos magos que revelam a realidade
Viver será sempre a maior magia da vida
Ainda uns poucos convivem com a verdade
Há outros tantos que a rodeiam com amurada

A estrada segue o próprio destino
Margeada pelo verdejante campo
Por vezes rasteira sem descortino
Entretantos maturando no seu devido tempo

Pelo corpo os ventos cortantes
Os pés sobre o solo árido
Entre tantos passantes
Caminhas sozinho sem alarido

No vespertino despertar da noite
Dentre as estrelas o silêncio
A solidão entre as mãos em açoite
Aos pés da montanha o prenúncio

No final da longa estrada do ter
Para cada ser um ventre materno
No tempo de pensar em ser
Galgar a montanha rumo ao eterno

sexta-feira, 5 de março de 2010

Lágrimas



Lágrimas que escorrem no rosto
Como cristais...
Como ais...
Tem gosto de sal
Transparece o lado oposto
Deixando ver o bem e o mal

Tão cristalinas em maremoto
Aos milhares refletindo o arco-iris
Na beira do cais...
Recordações demais...
Comovidas por estarem vestidas de roto
Outras envenenadas de intenções vis

Lágrimas que encontram lágrimas
Muito além do mais...
Jamais, jamais...
Outras chorando pelo desencontro
Algumas sorriem de si mesmas
N'outro tempo triste no espectro

Lágrimas como o sal da terra
Lembranças pessoais...
Navegas arrais...
Temperadas pelo o sal do corpo
No oceano de lágrimas de guerra
Lacrimejando na hora do escopo

Dos santos olhos goteja o sangue
A rubra flor-de-lis...
Róseas ou azuis dos miosótis...
Da persistente face da miséria humana
O ciclo de vida se perdendo no mangue
A gana do ter rompendo a membrana

A noite encobre o dia de breu
Sopro de amarilis...
Nós, comum de dois...
Tuas lágrimas reluzem no céu
Sentindo as estrelas em camafeu
Tão presentes com teu corpo em apogeu

Sentir o doce sabor da lágrima
No oásis...
Na luz da íris...
Num pranto sufocado de desejo
Chorando essa vontade desestima
(Bordejo com as estrelas caidas pelas ruas)
Um nome na fria noite rumorejo

terça-feira, 2 de março de 2010

O caminho



A luz do dia cede
Em metamorfose perfeita
Renascendo em noite
Trazendo a sede na boca
Na garganta a voz rouca
No desejo, o amor imperfeito
Vislumbrando o céu
Anoitecendo a alma
No silêncio das estrelas
Um coração pulsando
No caminho do infinito

segunda-feira, 1 de março de 2010

O tempo de viver


Corre o suor pela fronte
As mãos transpirando gélidas
Sobre a corda tão bambas

Sob os olhares do mundo pronto
Veste a pele transformada
Numa armadura de vitórias

Nos olhos delineando as cores
O rubro salientando os lábios
Na boca desabrochando o riso

Ocultas sob a face da beleza
A face oculta do medo
Os medos ocultos na mesma face

Na tua imagem no espelho
Vestindo delineando o corpo
Os pés equilíbrando em saltos

Tão plena de lembranças
Emoções e desejos apegada
Antigas emoções latentes

A bolsa plena de lembranças
Necessaires e afetivas recordações
Analgésicos para amores passados

Deslizas por iguais caminhos
De um dia para o outro
Indispostas em perder o passado

Gravando as mensagens no fim do dia
Saudando fielmente o ano velho
Caminhas lentamente pela vida

Com os olhos fixos no retrovisor
No passado sem despedida
Estática no tempo do medo

No futuro há somente o passado
No presente apenas um corpo
E a ilusão de viver a vida

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Para depois da chuva


Por fim surgiram as estrelas
Como fagulhas no breu
Brilhantes, cintilantes
Faiscantes brilhantes no céu

Muitas foram as noites de chuva
Chovendo a chuva pela noite afora
Extrapolando o limite da sede
Ultrapassando o nascer da aurora

Em plena noite tão nítida surge
Tão timidamente o nascer da lua
Resistente como se envergonhada
Dos olhos inchados de chover a chuva

Ou terá sido o suor do teu corpo
Encharcando o lençol da cama
Ou terás sido tal qual a lua
Chovestes por noites sobre a fronha

Tu e a lua resistem perante as estrelas
Uma troca de olhares constrangidas
Como num gesto tão humanamente simples
Olhar nos teus olhos diante do espelho

Tu e a lua diante das estrelas
Numa troca de olhares tão cúmplices
Sem um gesto divinamente simples
Inspiram tantos poetas depois da chuva

Se todas fossem Cecília


Teu pensamento fica no tempo
Renovando a cada sensação descrita
Como se fora hoje com todas as cores

Tua inspiração renasce como as flores
Aquelas que do teu jardim não foram colhidas
E em seus versos exalam o teu perfume

Trazes em tuas mãos a transparente alma
Aos muitos olhos que não vistes
Almas que não acreditam que tu existes

"Teu bom pensamento longinquo me emociona"
Torna-me menos ignorante de tudo que és
Mas resigno-me do todo que te eterniza

Teu ensinamento continuará pelo tempo
Entre as palavras escolhidas com maestria
Em cada descrição perfeita, humildemente, direi:

-"O vento do teu espírito soprou sobre a vida
E tudo que me era efêmero se desfez
E ficaste só tu, que és eterna..."

Teu canto existe a cada instante
E a tua poesia está completa
"Não és alegre, nem és triste",
Tu és eternamente poeta.

sábado, 23 de janeiro de 2010

As horas envelhecidas


Sobre a mesa repousam os óculos
Com olhar fixo em minha direção
As lentes manchadas pelo amarelo
Não apenas pelo tempo passado
Ou a tinta desbotada sobre os pápeis
Aquém das muitas horas insones
Em que a vida seguiu seu curso
Inadvertidamente vazio de inspiração
Talvez seja o peso sobre os ombros
Por tantos anos de emoções
Fixo os olhos no horizonte
Numa contagem adversa das horas
Sem pavor se o passado é maior
Maior que o futuro a ser vivido
Das muitas horas repletas de sonhos
Algumas delas ainda continuam sonhando
Outras horas foram esquecidas
Importa as novas que nascerão
Preciosas em viver a cada segundo
Serão saboreadas como a um raro vinho
Das uvas frescas que foram colhidas
Ainda conservando o orvalho das manhãs
Nos dias passantes entre as estações
Estarei mais próximo do sonho eterno
Redescobrindo os segredos de outrora
Perolizadas entre as horas envelhecidas