sábado, 23 de maio de 2015

nada ser além da dor

Niente - Sergio Cammariere (Widescreen)
SERGIO CAMMARIERE - OFFICIAL WEBSITE 
http://www.sergiocammariere.com/
Nascido em Crotone em 15 de Novembro de 1960, o pianista e compositor conhecido por seu talento e performer envolvente, inspira-se tanto na grande escola da música italiana, nos sons sul-americanos, na música clássica e nos grandes mestres do jazz. 
http://biografieonline.it/biografia.htm?BioID=1628&biografia=Sergio+Cammariere
http://it.wikipedia.org/wiki/Sergio_Cammariere
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The Image Disappears - Dalí i Domènech, Salvador
© Salvador Dalí, Fundació Gala-Salvador Dalí, Figueres, 2014.
http://www.salvador-dali.org/museus/teatre-museu-dali/en_index/

As obras de Salvador Dalí
“O surrealismo é destrutivo, mas ele destrói somente o que acha que limita nossa visão.”
https://www.westwing.com.br/magazin/lifestyle-cult/obras-de-salvador-dali/

Salvador Domingo Felipe Jacinto Dali i Domènech, 1º Marquês de Dalí de Púbol, conhecido apenas como Salvador Dalí, foi um importante pintor catalão, conhecido pelo seu trabalho surrealista. [11/05/1904, Figueres, Espanha - 23/01/1989, Figueres, Espanha]
Nacionalidade: Espanhol - Períodos: Surrealismo, Cubismo, Arte moderna, Dadaísmo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Salvador_Dal%C3%AD
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nada ser além de dor

um passo e as bocas se abrem 
clamam:  o mundo está pronto!
o céu não é mais um limite.
mas só há um passo entre tantos

um passo e o chorar na chuva
o sentimentalismo envergonhado
se nesses lábios entre tantos
fosse um só beijo apaixonado

um passo por lá enquanto é tempo
os passos sem sentido pela vida
o medo circulando pelas ruas
um riso em meia boca de terror

um passo e os corpos dançam
se buscam nas canções de amor
a cada sinfonia inacabada
por um simples calor humano

um passo e a esperança se vai
entre as mil folhas pelo vento
se a dor não passa ou talvez passe
mas a saudade não, não a tristeza 

um passo atrás do outro
a flor voltará com outro inverno
a paz, pouco a pouco, se fará
e a neve cobrirá os corações

um passo e a vida passará 
do amor do faz de conta
como nada se passasse
a nada ser além da dor

um passo rápido
uma ilusão para viver
a vida passa
no mundo tudo passa

quarta-feira, 20 de maio de 2015

uma certeza dentro do nada


Chiara Civello - Outono [Rosa Passos/ Fernando De Oliveira] 
http://www.chiaracivello.com/web/
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O Nascimento de Vênus é uma pintura de Sandro Botticelli, encomendada por Lorenzo di Pierfrancesco de Médici para a Villa Medicea di Castello. A obra está exposta na Galleria degli Uffizi, em Florença, na Itália. Material Têmpera - Galeria dos Ofícios -  Pintura histórica - Criação: 1484–1486. http://www.italian-renaissance-art.com/Birth-of-Venus.html

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uma certeza dentro do nada

existe sempre uma saudade na alma
sorrateira como a fresta de uma janela
de conversa inútil e assaz companheira
num insistente empurrar dos dias

empurrar os dias, dos dias, nos dias

existe sempre um canto de pássaro
mania de amanhecer em doce lamento
um dia que vem ou vai-se em menos um
a madrugada enfraquecida vai-se embora

vai-se embora, o embora no embora

existe um sempre à bater no peito
dói intenso e sussurra de qualquer jeito
se esconde por trás de qualquer lágrima
e desaparece como tudo no tempo

tudo no tempo é o tempo do tempo

existe no sempre que finge em memória
sopra feroz as lembranças cansadas
em vento frio rodopia em funil
se abriga na noite o turbilhão da demora

o turbilhão da demora, a demora da demora

existe o sempre inútil afagar da tristeza
chama indolente de nenhum calor
empalidece os sonhos providos de cor
ir-se de vez no perder-se na dor

perder-se na dor, na dor, a dor da dor

existe sempre a palavra e o gesto
um pensamento sem ação
o verso se vai pelo reverso
um universo por um vazio

por um vazio de vazios num vazio

existe sempre um eu num adeus
o silêncio dos amantes incertos
há sempre um mais eu, num eu só
onde existirá sempre o nada de nós

deixando a certeza dentro do nada

existe sempre um aprender a cortar
aprender a cortar a palavra amor
a cortar com sofrimento de verso
aprender a cortar as palavras com dor

(se o amor está ausente, apenas o corpo foi-se embora)

sábado, 16 de maio de 2015

B.B. King - "A coisa bonita sobre a aprendizagem é que ninguém pode tirar de você."

Plantação de algodão no delta do rio Mississippi.
BBKING.COM
The Official Website
http://www.bbking.com/
B.B. King Museum
http://www.bbkingmuseum.org/
BB King [Riley Ben King - 16/09/1925 Berclair, Mississippi, U.S.
- 14/05/2014 Las Vegas, Nevada, U.S.] 
Genres Blues, R&B, electric blues, blues rock - Singer, songwriter, musician, record producer
- Vocals, guitar, piano (1948–2015).  
BB King foi um guitarrista de Blues, pianista, compositor e cantor estado-unidense. O "B. B." em seu nome significa Blues Boy, B.B. King foi distinguido com 15 prémios Grammy, tendo ganho o epíteto de Rei dos Blues.
BB King 3 O'Clock Blues original 1950 78
In Mississippi's Delta area, Oct. 1939 Picking Cotton. Marion Post Wolcott.
Cotton picker - A história do Blues
Riley Ben King nasceu numa fazenda de algodão em 16 de setembro de 1925 em Itta Bena, perto de Indianola, no Mississippi, Estados Unidos. Teve uma infância difícil – aos 9 anos, vivia sozinho e colhia algodão para se sustentar. Começou por tocar, a troco de algumas moedas, na esquina da Second Street. Chegou mesmo a tocar em quatro cidades diferentes aos sábados à noite.

No ano de 1947, partia para Memphis, no Tennessee, apenas com sua guitarra e $2,50 dólares. Como pretendia seguir a carreira musical, a cidade de Memphis, onde se cruzavam todos os músicos importantes do sul dos Estados Unidos, sustentava uma vasta competitiva comunidade musical em que todos os estilos musicais negros eram ouvidos.
O seu estilo foi inspirador para muitos guitarristas de rock. Mike Bloomfield, Albert Collins, Buddy Guy, Freddie King, Jimi Hendrix, Otis Rush, Johnny Winter, Albert King, Eric Clapton, George Harrison e Jeff Beck foram apenas alguns dos que seguiram a sua técnica como modelo.
Nunez's original autographed BB King - http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Autographed_BB_King.JPG

Em 1969, B. B. King foi escolhido para a abertura de 18 concertos dos Rolling Stones. Em 1970 fez uma turnê por Uganda, Nigéria e Libéria, com o patrocínio governamental dos E.U.A.  
 Começou a participar da maioria dos festivais de Jazz por todo o mundo, incluindo o Newport Jazz Festival e o Kool Jazz Festival New York, e sua presença tornou-se regular no circuito por universidades e colégios.
 B. B. King fez turnês pela Austrália, Nova Zelândia, Japão, França, Alemanha Ocidental, Países Baixos, Irlanda, Suécia, Rússia, Bélgica, entre outros países do mundo e na América Latina, com concertos no México, Brasil, Chile, Argentina, Uruguai, Peru e Paraguai.
http://pt.wikipedia.org/wiki/B._B._King
Tribute to BB King: Legend of BB King (A Blues Guitar Tribute for BB King 1925 to 2015)
"A coisa bonita sobre a aprendizagem é que ninguém pode tirar de você." B.B. King
In Memoriam

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Maria Gabriela Llansol - Um documentário que percorre as paisagens de sua escrita em Portugal e na Bélgica.


Publicado em 28 de junho de 2014
Maria Gabriela Llansol é o centro deste documentário que percorre as paisagens de sua escrita em Portugal e na Bélgica.
direção - gabriel sanna e lucia castello branco
produção - literaterras
https://literaterras.wordpress.com/

Maria Gabriela Llansol - Escritora portuguesa de ascendência espanhola, (Lisboa, 1931 - Sintra,  2008).  Licenciou-se em Direito e em Ciências Pedagógicas, tendo trabalhado em áreas relacionadas com problemas educacionais. Em 1965, abandonou Portugal para se fixar na Bélgica, regressando posteriormente a Portugal. Considerada uma autora cuja escrita é hermética e de difícil inteligibilidade para o leitor comum, é, no entanto, apontada por muitos como um dos nomes mais inovadores e importantes da ficção portuguesa contemporânea. 
A sua carreira literária iniciou-se com Os Pregos na Erva (1962), obra que inaugurou uma nova forma de escrever, embora estruturalmente se assemelhe a um livro de contos. Publicou de seguida Depois de os Pregos na Erva (1972), O Livro das Comunidades (1977), A Restante Vida (1983), Na Casa de Julho e Agosto (1984), Causa Amante (1984), Contos do Mal Errante (1986), Da Sebe ao Ser (1988), Um Beijo Dado Mais Tarde (1990), com evidentes ressonâncias autobiográficas, Lisboaleipzig 1: O Encontro Inesperado do Diverso (1994), Lisboaleipzig 2: O Ensaio de Música (1995), Ardente Texto Joshua (1998), Onde Vais Drama Poesia? (2000),  Cantileno (2000), Parasceve. Puzzles e Ironias (2001), O Senhor de Herbais. Breves ensaios literários sobre a reprodução estética do mundo, e suas tentações (2002), O Começo de Um Livro é Precioso (2003), O Jogo da Liberdade da Alma (2003), Amigo e Amiga. Curso de silêncio de 2004 (2006). 
http://nescritas.com/poetasapaixonados/listapoesiasdeamor2/1990/11/   
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  Os cogumelos são, de facto, nus e, na orla do bosque,
confundem-se com o que eu não gostaria de ser; este cogumelo sonha,

a Sulamita fechou-o numa gaiola e, posto em pássaro, começou
a fenecer, e tornou-se pálido; mais tarde, lembrou-se dele
e ele rapidamente voou para uma nascente a alimentar-se de
água, de insectos e de perfumes;

ao acordar, a amada torturava-se com perguntas____ de
quem seria o pássaro a paciência? a paciência do meu cântico?,
o próprio seu amado perdido entre mulheres corsas,
veados-palmeiras,
musgos-pavão,
pés velozes de mirra,
beijos-lábios de nacre,
rostos-vinhas,
uno-uno,
este amor entre mil?
    Aos cogumelos que bordam o bosque e, de espécie em espécie,
vêm até à clareira, numa gradação subtil de venenos e de expansão,
também foi anunciada uma boa-nova;

agarrados aos pés das árvores, os micorrizos  dão-lhes de beber
e ajudam-nas a assimilar os elementos minerais do solo; sem
eles, as árvores jamais teriam abandonado o seu meio aquático
de origem; foi essa boa-nova que o gnomo lhes veio dizer

que era bom que assim fosse,
e eles viram que eram, de facto, magistrais os sonhos que davam
às árvores, conforme lhes anunciava o pequeno ente nascido
de uma fantasia virgem,
vegetalmente virgem

este conceito de vegetalmente virgem  faz parte dos resplendores
que me orientam na leitura do Cântico pela manhã
basta reparar na profusão dos seus vocativos
como a língua se expande e se objectiva
em torno do facto incompreensível de o amor ser tão insaciável
como a morte,
uma morte dando a morte à outra

e os arbustos e perfumes, em volta desse conceito
maravilhosamente operativo,
perguntam à Sulamita o que o seu amado tem de particular,
sobretudo, que tem ele que elas também não tenham nos seus

e ela desce ao pormenor de lhes dizer como ele a faz e insiste
que há sempre alguém à beira de o colher, ignorando se
se trata de um venenoso; é evidente que onde o meu é jubiloso
pode ser venenoso nas outras; assim de distinguem (e apenas)
uns dos outros

se o seu sonho fosse colhido, e perdesse o seu significado,
seria a morte do meu micorrizo; corram arbustos, vejam na
superfície da água,
atentem nos ramos,
algures, se deve achar o meu pássaro ressuscitado; a própria
clareira ouvia o apelo, se houvesse montes e colinas, tê-lo-iam
certamente ouvido,

fechou-se na minha antecâmara, penetrou nos meus luxuosos
apartamentos, brincou com os brincos e os colares, com os
mamilos e os dedos, com os tecidos e os lábios,
com as colunas e as minhas longas pernas onde gosta de se
enrolar como heras e vinha virgem, embrenhou-se, parou ofegante,

deslizava pela minha pele mais escura que a noite, corria pelas
minhas formas mais firmes que o solo dos seus combates
e, finalmente, depôs em mim o segrego do seu veneno; quando
acordei, estava só, e tive medo que tivesse morrido ou,se morto,
eu não conseguisse encontrá-lo como meu, ou eu?

minhas irmãs, clareira minha, dizei-me como pode um espírito
reconhecer sem corpo o espírito do seu amado? Como o reconheceis
agora, não fora o segredo venenoso que deixou em
vós, árvores levantadas em pleno dia, e pleno sol?

    Uma tão profunda associação entre matérias tão diferentes
não tem como finalidade dar à morte a própria morte e continuar
a metamorfose da vida?

    Olhando atentamente o comprimento do chão à sua volta, a
Sulamita
sentia cada vez mais com mais profundidade que o segredo
venenoso do seu amado era o seu problema
onde cantava os amores que os uniam,
ou seja,
pensou ela,

é vital que o micorrizo se metamorfoseie em pássaro estonteado
e livre,
    como fora possível não o ter compreendido antes?
e, de facto,

encontrava-se estendido entre as frases do seu poema,
confundido com a linguagem, escondido atrás do volta, volta, insistente,
vestido de onde estás, porque andas fugido?,
mas, mal o levou à cópia do seu coração,
ele levou-lhe a alma,
e mergulhou-a na nascente

e ela perguntou-se porque razão não somos mais?
enquanto a água a penetrava, fresca e renovada, as imagens da água,
tais como cópias da noite, abatiam-se sobre ela
o prazer de um não é o prazer do outro
tu queres-me, podes, possuis e devastas

eu quero-te, posso, saio de mim e entrego-me às puras imagens
esse é o trabalho de nos fazermos, uma parte humana e outra
a mais longe possível do humano, corças, cães, veados, mirra,
sol, vinha, perfume

e que entre eles,
oscile, ó peço-te, o que há-de escrever eternamente os nossos sonhos.

in «Onde Vais, Drama-Poesia?», págs 146 - 149
'III Em Busca da troca Verdadeira (1982-1992)'
Lisboa, Relógio D'Água Editores
ZUNÁI - Revista de poesia & debates

ESTE TEXTO PODIA CONTINUAR ASSIM:
DERIVAS A PARTIR DE ONDE VAIS, DRAMA-POESIA?,
DE MARIA GABRIELA LLANSOL

por Érica Zíngano

“Só nos aproximamos desviando”
Maurice Blanchot

 “É a minha própria casa, mas creio que vim fazer uma visita a alguém”
Maria Gabriela Llansol

MARCO ZERO,
 Este texto podia começar assim, como uma repetição, uma marcação rítmica – foi a primeira ideia que despontou, como um lampejo, e me fez partir para tentar elaborar um desenho de pensamento, de procedimento de composição, a partir de Maria Gabriela Llansol: um texto que pudesse começar e recomeçar, para desenhar no espaço vários começos possíveis, através de enumerações repetitivas, mas sempre diferentes, outros pontos de partida, eternos retornos em diferença, onde, assim, o texto ganharia fôlego para partir outra vez, à deriva, porque a textualidade[i] llansoliana permite uma infinitude de aproximações:

(…) nesta ordem de ler, ler é nunca chegar ao fim de um livro respeitando-lhe a sequência coercitiva das frases, e das páginas. Uma frase, lida destacadamente, aproximada de outra que talvez já lhe correspondesse em silêncio, é uma alma crescendo. Eu não consigo abranger a infinitude do número e da harmonia das almas, nem texto de um verdadeiro livro,
nem a terra de um jardim que se mantém há gerações. (LLANSOL, 2000a, p. 45).

"_______ escrevo,
para que o romance não morra.
Escrevo, para que continue,
mesmo se, para tal, tenha de mudar de forma,
mesmo que se chegue a duvidar se ainda é ele,
mesmo que o faça atravessar territórios desconhecidos,
mesmo que o leve a contemplar paisagens que lhe são tão
difíceis de nomear. (LLANSOL, 1994, p. 116)."

Por conta de outra leitura, .....

(visite o site e aprecie na íntegra.)    http://www.revistazunai.com/ensaios/erica_zingano_derivas.htm

Érica Zíngano é poeta e mestranda em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP). A poeta cearense, publicou poemas em plaquete editada pelo centro cultural Dragão do Mar.
Leia também poemas da autora. http://www.revistazunai.com/poemas/erica_zingano.htm
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O meu agradecimento especial ao gabriel sanna e lucia castello branco
e a produção - literaterras
https://literaterras.wordpress.com/
https://pt-br.facebook.com/pages/Literaterras/128150670589412
aos autores nos sites que integram esta postagem

domingo, 10 de maio de 2015

Para Sempre

Michelangelo Buonarroti, La Pietà (1497-99)
http://naiguata.tumblr.com/post/96705236813/whitenoten-michelangelo-buonarroti-la
♥ღ¸.•°♥

Para Sempre 

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento. 

Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

[Carlos Drummond de Andrade, in 'Lição de Coisas' ]
http://www.citador.pt/poemas/para-sempre-carlos-drummond-de-andrade

quarta-feira, 6 de maio de 2015

finalmente, a hora dos fantasmas


Tenderly [Walter Gross-Jack Lawrence-1946]-E. Higgins and Scott Hamilton[sax]

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Orson Welles 100 anos
"O cinema não tem fronteiras nem limites. É um fluxo constante de sonho."
George Orson Welles[ 06/05/1915, Kenosha, Wisconsin - 10/10/1985, Hollywood, L A, Califórnia, EUA] Ator, Diretor, Produtor e Dramaturgo. 
Oriundo do teatro e do rádio, a estreia de Orson Welles no cinema foi com o Cidadão Kane, obra gestada com todos os requintes de um clássico. Os filmes para conhecer Orson Welles: 
Cidadão Kane (1941), O processo (1962), Othelo (1952), It's all true ( 1942), Soberba (1942)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Orson_Welles

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finalmente, a hora dos fantasmas

virar-se para trás
e olhar novamente
não era a hora
não agora

um dedo na artéria
sem pulso
nenhum calafrio
sem um único som

apenas uma linha
a um passo de cá
a um passo de lá
é preciso pressa em passos largos

um pouco de sorte
a liberdade dos sofrimentos
separar um pouco de caos
um arrepio pela espinha

virar-se para trás
e olhar novamente
no meio da escuridão
o silêncio é de um tempo imenso 

O eco faz o eco
de eco
em eco 
marcando o compasso do vazio

olhar para si sem barulho
depois que os trovões se emudeçam
a chuva caia em silêncio
num sono da única pessoa do mundo  

um corpo para repousar num colchão azul
onde não há mais a fome
nem o insaciável devorar de outro cérebro
só um breve aceno de uma estátua

O tempo desmorona as casas
enruga as faces
desbota as cores
é a razão que me mortifica

virar-se para trás
e olhar novamente
é preciso contar dez segundos
um rápido olhar no relógio e não há mais tempo

virar-se para trás
e olhar novamente
é o tempo sem tempo
finalmente chegou para acordar todos os fantasmas


terça-feira, 5 de maio de 2015

Antonio Brasileiro - DAS COISAS MEMORÁVEIS

Antonio Brasileiro

Escritor e artista plástico. Tem cerca de vinte livros publicados (poesia, ensaio, conto, romance), destacando-se entre eles: Caronte (romance, 1995), Antologia poética (1996), Da inutilidade da poesia (ensaio, 2002), Poemas reunidos (2005) e Dedal de areia (poesia). Como artista plástico, fez cerca de 70 exposições. Doutor em Letras, ensina na Universidade Estadual de Feira de Santana, onde reside.
http://a-brasileiro.blogspot.com.br/

O poeta, pintor e ensaísta baiano Antonio Brasileiro (1944-) já foi apresentado neste correio poético na edição n. 26, dez anos atrás. De lá para cá, ele não só produziu regularmente como também publicou diversas coletâneas de poesia, entre as quais Poemas Reunidos (2005), Dedal de Areia (2006) e Desta Varanda (2011). 
A leitura desses volumes revela um poeta de estilo cada vez mais marcante e refinado que se inscreve, sem dúvida, entre as vozes mais expressivas da atual poesia brasileira. 
http://www.algumapoesia.com.br/poesia3/poesianet293.htm
Paul Klee (1879-1940), suíço, Paisagem com Pássaros Amarelos (1923)

DAS COISAS MEMORÁVEIS

Um dia o mundo inteiro vai ser memória.
Tudo será memória.
As pessoas que vemos transitar naquela rua,
as gentis ou as sábias, ou as más, todas,
        todas.
E o mendigo que passa sem o cão,
o ginasta, a mãe, o bobo, o cético, a turista.
Deus, inclusive, regendo o fim das coisas
memoráveis, também será memória. Deus
e os pardais.
E os grandes esqueletos do Museu Britânico.
Todo sofrimento será memória. Eu, sentado aqui,
serei só estes versos que dizem haver um eu
        sentado aqui.

31/05/1999
De Pequenos Assombros (1998/2000)