domingo, 27 de janeiro de 2013

Conspiração dos amores



Falando De Amor - T. Jobim Quarteto Morelenbaum


Os lugares passaram ante aos olhos
Saltaram às folhas feito vistas
Nos mil tempos desfolhados ao vento
Pelo chão esparramando ondas

Os caminhos desfazendo amores
Doloridas promessas
Os momentos de intemperança
Subtraídas na retidão do espírito

Muito de compaixão se passa
Apenas nas coisas
Na vida passada em atos
Julgados fatos sem regras

Um pouco de nada resiste
Na aurora da dúvida
Se noite ou se dia
Na inspiração adormecida

O sopro da dúvida
No castelo de cartas
As lâminas dos naipes
Nos elementos do eterno

Amores em conspiração
No desequilíbrio do ponto
O destino em longas linhas
Nas mil folhas pelo vento

São tantos amores pela vida
Da vida de muitas dores          
Tantas dores tenhas visto
Em nós tão poucos amores


Domingo, 27 de janeiro de 2013


sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

A casa do eco



Sem você - Paula Morelenbaum [A C Jobim/V de Moraes]


Vazia de mim tu fostes
Sem talvez
Com a leveza da pluma
Pairando no ar feito esquecimento

Despiu-se do eco da casa
Vestiu-se de mala
Partiu-se em si mesma
Para amar-se de vida

Restou-nos a essência
Dos teus objetos
Nesta casa vazia de ti
De resto foi por consequência

Das poucas lembranças que olham
No chão ao avesso
Dos tempos que se tornaram coisas
No mundo da casa sem alma

As janelas buscaram a tua imagem
Acenando com as desbotadas cortinas
O adeus comum de todos os homens
De todas as cidades adormecidas

Sem primaveras cruzaste o rio
Levando contigo todas as flores
Por consequência das borboletas
Planaram sobre a ponte dos sonhos

Na sala do espanto respiro
As paredes que se calam brancas
Apontando sobre a cômoda
As cartas que escreves se voltas

Sobre o rio faço-me ponte
Ligando-nos no nada ao lugar nenhum
Dando-te asas para voar
Pousares entre os meus sonhos

Na penumbra dos quartos da lua [crescente]
Sobre o leito de lençóis desfeitos
Trazes o campo das miúdas flores
Estampadas com teu carmim

Nas delicadas vestes de amores
Das tuas suaves cores de querubim
Num talvez na solidão do mundo
Sejas tua voz o eco que escrevo


segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Na casa do eco



Why Should I Care ~ Diana Krall


Vazia de mim tu fostes
Sem merecer
Com a leveza da pluma
Pairando no ar feito esquecimento

Restou-me a tua essência
Nos teus objetos
Nesta casa vazia de ti
O resto fui eu por consequência

As poucas lembranças me olham
No chão pelo avesso
Do tempo que se tornaram coisas
Da casa sem alma

As janelas buscaram a tua imagem
Acenando com as desbotadas cortinas
O adeus comum de todos os homens
De todas as cidades adormecidas

Como primavera cruzaste o rio
Levando contigo todas a flores
Por consequência as borboletas
Planaram sobre a ponte dos sonhos

Na sala do espanto respiro
As paredes brancas que se calam
Apontam sobre a cômoda
As cartas que escrevem que voltas

Sobre o rio faço-me ponte
Ligando-me no nada ao lugar nenhum
Dando-te asas para voar
Pousando entre os meus sonhos

Na penumbra dos quartos da lua
Sobre o leito de lençóis desfeitos
Trazei-me o campo das miúdas flores
Estampadas com o teu carmim                

Das delicadas vestes de amores
Nas tuas suaves cores de querubim
Posso esperar como lua nascente
Na casa do eco a voz para chamar-te


domingo, 20 de janeiro de 2013

No encantar das estrelas



Memories of Green - Vangelis


Quando a noite pousa nos pássaros
No encantar das estrelas que vestes
Repousas nas tuas asas de leito
Num confronto ao trono dos deuses

O Olímpo de purgatório dos onipresentes
Na existência crua dos semideuses

Ao peito acolhes nos braços a noite
Sois o exílio dos laços maternos
Sobre o manto da solidão de todos
A nua existência sobre o travesseiro

Cedo ou tarde a sorte ou a morte
Num sonho à deriva que lhe vem à boca

Reacendes das cinzas o minuto de fogo
Nas palavras recolhidas do jogo
Do indecifrável mistério da vida
Resta-nos nada, resta-nos tudo

Resta-nos quase o que poderíamos ser
Sem antes morrer com a perfeição dos mortos

Pensamentos que tudo arrastam
Devastando as dunas e os oásis
Na quietude calada da fronha
As lágrimas absorvendo as dores

Pedaços de sonhos dispersos no ser
O que a vida observa e não responde

Sonhos da ânsia de presentes deleites
Reféns do delírio de outras lembranças
No desejado sabor doce de outros frutos
No passado intocado das copas das árvores

Não morrem do sonhar como destino
Os sonhos que sonhara sonhar em sonho

O silêncio teima em pulsar o coração
Na respiração lenta do vento
Acalentas nas mãos o tato descrente
Na presença de outro corpo que inventas

Intocada carência na carícia da alma
No diálogo silencioso da mulher que te fazes

Agora não és a mulher que adormece
De vastos oceanos e imensas vagas
Num inventar de sonolentas carícias
Apenas dormes no despertar da criança

Sobre o mudo criado os ponteiros observam
Na janela do sonho o amanhecer do novo dia


sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Cristais do tempo



Ikuko Kawai-Nostalgia in blue


Em cada instante que te invento
Fracionado no tempo
Corto-me nos segundos que sofro
O vento atravessa-me num sopro

Sangro a tua falta desenhada no ar
O tempo que sorri semeando a morte

A tua ofuscada luz no nevoeiro
Da tua imagem restou-me a sombra
No espelho d'água refletido
O brilho dos teus olhos de outrora

Minhas mãos calejadas de remo
Na correnteza dos sentimentos

Nos afluentes que não mais desaguam
Criando as barreiras nos desejos
Nas pedras que nascem do limo
As emoções remam nas corredeiras

A saudade dos corpos de ternura
Recolheu-se no esquecimento desatenta

Desmanchadas pelas águas do destino
Esculpindo as curvas do teu corpo
Nos cristais em que te lapido
Desenho o teu nome na areia

Restaram nas mãos os cristais do tempo
Formas perfeitas do coração de uma mulher

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

No tempo da espera


Insensatez -Fernanda Takai [Tom Jobim e Vinícius de Moraes]

Não se importes com o tempo
Nele é que me faço refém
Quando te prendo nos braços
Fazendo-me alimento para o teu eterno

Mesmo que o tempo me condene
Fazendo as tuas folhas cairem
Dou ao tempo a paz que necessita
Para te esconder na minha espera

Dos teus lábios retiro a água
Na sobrevida de todas as flores
Se me tornaste cativo do teu jardim
Convivo entre os teus dias de espinhos

És a saudade que em mim respira
Na aurora em que teu corpo parte
És a noite que em mim amanhece
Para que chegues antes que o tempo

Não te condenes no amor da espera
Na dor das palavras que invento
Soltas no vento as palavras do mundo
Para erguer do chão a lua que te quero

E ao sorrir estrelas no brilho dos olhos
Na rouca voz da noite ir despindo o dia
A espera envelhecida partir antes do tempo
Farei no tempo de espera o teu amor eterno

domingo, 13 de janeiro de 2013

Nas folhas do jardim


RAIN- Ryuichi Sakamoto


Da tua mão nasce o vôo
Do pássaro que criaste
Voa nos sonhos
Na intocável primavera do teu corpo

Absorvo na tua pele morna
A suave fragrância das flores
Sangra-me a dor
Na distância aguda dos teus espinhos

O silêncio que me cala
No calor do leito que levantas
No teu amanhecer
Adormeço nos sonhos que despertas

No etéreo sangue que nos une
Enrubesce o desejo dos teus lábios
Na boca do mistério
O chão de folhas no vestido sobre os pés

Afinidades do acaso das almas
No futuro das vidas passadas
Tornar-se oceano
Os dois corpos adjacentes que deságuam

Desvendando as palavras do corpo
Ser o peito que tua cabeça repousa
Os olhares espiam
As folhas da árvore que respiramos

Absorvendo na terra a água da chuva
O sabor doce e o desejo da fruta
No sublimar
Em raízes a semente do mesmo fruto

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Uma carta da ilusão



Jobim Sinfônico - Saudade do Brasil - Osesp


Fortaleça-me com teus desígnios
Não te fragilizes com meus fragmentos
Sou os versos que em ti recolho
Fazendo-me espanto no ruído das palmas

Se nos meus devaneios revejo o passado
Se me faço ponte que liga o nada à lugar nenhum

Sejas luz no meu labirinto
Mesmo nas frases soltas
Sejas como as luzes dos vagalumes
Nas minhas lembranças na penumbra da noite

Se me perco num anomimato andarilho
Se finco minhas raízes nas ventanias

Busco na terra a tua seiva elaborada
Nas folhas de alvura o revoar das aves
Tornar-me em ti a liberdade de voar
Num instante único de ser

Se me faço inexistente na distância
Se recluso no horizonte de ser culpado

Ensina-me teus versos da dor de amar
Nas canções que embalam teu coração
Ensina-me aos teus olhos refletir
Na invisível paisagem dos teus sonhos

Se me faço cair como gota da folha orvalhada
Se vaporizo e salgo do teor da lágrima

Sejas o inesquecível gesto que importa
A carícia na pele que me reveste
Nos lábios a palavra que principia
O mágico instante de unir as almas

Se me construo de ilusão em poucas linhas
Se frágil é o perdão na superfície da água

Debruças na poesia o teu jeito de ser
Nas entrelinhas os teus tesouros sagrados
Dadas mãos entrelaçadas à uma terra distante
Onde o vento presente nos tornará invisíveis

Se num facho refletido de tua intensidade
Se no amor de duas almas se tornarem luz

Numa carta em poucas linhas
Ensina-me a liberdade de ser poeta
Para ser livre em teu coração

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

No longe que existo



Al Di Meola - The Grande Passion - Live in Warsaw, 2000 [1]


O Longe existe no tempo
No tempo tão longe do inexiste

Tê-la pela sobra de dois corpos
Pelas gotas de saliva
Beijos inacabados
Sobras da distância de um tempo
Que a boca que não cala        

Saciam na distância de dois corpos
Nos inúmeros amanheceres infiéis

Nos anoiteceres esquecidos
Nas paisagens alegres
Tristes toques
Do  leve roçar dos lábios
O teu corpo solitário olhando

Mãos movidas pela distância das paisagens
Muitas e poucas nos alegres ou tristes talvez

Anoiteceres repousantes
De amanheceres de esquecimento
Teu cabelo solto          
Soltavam-se molhando a água
Que desaguava sobre a fronha

De bruços deitava o teu corpo cansado
Num exausto mudo de estrelas

Abraçaram as horas pelas estradas
Nas tuas sandálias cansadas dos pés
Traziam um corpo
Meu corpo que não era teu
No peso ausente da tua bagagem

Hoje teimo em saciar a sede
Com tua ausência de esquecimento

Na saia florida desenhava tuas pernas
Sobre os seios a blusa conspirava
Teu corpo deitada
No meu mudo gesto insistente olhava
O nascer da desesperança

Tão pouco necessitas para viver [disseste]
Num pouco entendido me fiz existir

Que me percebo no esquecimento
No aborto que entre nós nasceu
Não é saudade
É um lugar que o vazio existe
Se atravesso morro do que nos separa

Sigo cantando:
Puitii hapleide có-é-cáe
Uma mulher branca
Puitii burbulê cacuá candiêtê
Uma lua no céu de estrelas


sábado, 5 de janeiro de 2013

A manhã que encantas



Al Di Meola - Soledad - Live in Warsaw, 2000 [2]


Luzes escondendo estrelas
Na noite findando o mistério
No quase dia, na quase noite
Quase tudo no final da espera

O cansaço reside nas pálpebras
Nas sonolentas meninas das íris
Repousadamente despertas de si
Nos dois horizontes dos olhos

Vislumbra no esquerdo o amor
Se esconde o direito da dor
No vazio preenchendo o ninho
Faz-se janela abrindo em paisagem

Longas cercas margeiam a estrada
Farpeando fios estacando as horas
Centenas de passos em tique-taques
Num vulto longínquo da esperança

Crepusculando será que voltas,
Na quase noite, do quase dia?
Na espera final do quase tudo,
Se acendes as estrelas na lua?

Encantas a aurora que cantas
Os passarinhos da alvorada
Teus corpos vestidos de pena
De pena perdem-se no azul

Encantando o canto da aurora
Fazendo o sono dos passarinhos
Sonham manhãs em revoadas
No azul escuro pintando as penas

Na janela desfaz-se a paisagem
Na escura estrada sem margens
Como irmãs a aurora e a esperança
Repousam os sonhos das manhãs