domingo, 18 de agosto de 2013

Indecifrável Saudade


Maria Bethânia e Lenine - Saudade[Chico César e Paulinho Moska]

Apagar a imagem de alguém
Aquém perdida no tempo
Desaparecer do eu parado no vento
Do amor que ficou sem ar

Esquecer a alma do corpo inerte
Fechando o sorriso acanhado
Colorir a tua pele esmaecida
Levantando-te dessa pedra fria

Anestesiar a dor da ausência
Festejando essa mágoa "solitatis"
Quebrar os ponteiros do relógio
Inventando a máquina do tempo

Misturar todos os sentimentos
Sendo o teu "achados e perdidos"
Recolher na trena todas as distâncias
Ligando com pontes todos os oceanos

Doar-te meu coração e transplantar-me o teu
Habitando-te em momentos infindos
Eternizando-me em teu corpo "fatum"
Ser teu  porto seguro da nostalgia

Queimar todas as iguarias e temperos
Rasgando todas a tuas receitas
Tornar-me adstringente no amargo, no azedo
Jejuando-me de todas as tuas guloseimas

Inexistir o perto, o longe e o ausente
Segurando no dique todas as correntezas
Paralisar as órbitas dos planetas
Iluminando todos os meus subterrâneos

Conviver com todas as secas
Aterrando os olhos d'água
Salgar permanente todas as represas
Estimulando a sede na insalubridade

Exaurir o sentimento de poder
Enaltecendo o feio e o horroroso
No fracassado duelo com a "soedade"
Declinando o teu sopro de vida

Abnegar-me de toda coragem
Sendo refém nessa batalha infinda
Num sentimento de diferentes vestes
Ora tecido de "soidade", ora de "suidade"

Tropeçar na solitude cega no terreno
Abandonando a mais difícil tradução
Denunciando na incontrolável poética
O incontestável desejo de "matar a saudade"
               ~.~.~.~.~.~.~

Almeida Júnior - Saudade - Google Art Projet                                                

[NA.: latim "solitas, solitatis" (solidão)
a mistura dos sentimentos de perda, falta, distância e amor. Forma arcaica de "soedade, soidade e suidade" e sob influência de "saúde" e "saudar", o termo saudade advém de solitude e saudar, onde quem sofre é o que fica à esperar o retorno de quem partiu, e não o indivíduo que se foi, o qual nutriria nostalgia. Etimológica das formas atuais "solidão", mais corrente e "solitude", forma poética, é o latim "solitudine" declinação de "solitudo, solitudinis", qualidade de "solus". Uma pesquisa entre tradutores britânicos apontou a palavra "saudade" como a sétima palavra de mais difícil tradução.  http://pt.wikipedia.org/wiki/Saudade]


domingo, 11 de agosto de 2013

Um sopro de outros ventos


Caetano Veloso - Meditacion [T.Jobim & N.Mendonça]

Se deitas a simples lembrança
Numa noite vivida de chuva
Restaria o perfume nas pétalas
Das recordações que te amam

No vento que leva as horas 
No caminho do tempo 
Sopram em pensamentos
Os dias de se mudar o rumo

Restou-me o silêncio da morte
No asilo da tua ausência
Descolorida memória de sombras
Num destempero nas folhas

As fatalidades te guardam 
Em teu solitário engano
Dos segredos de uma vida eterna
Sem os pulsares dos corações

Deixo esse amor fora do corpo
Nos rios que rolam as pedras feridas 
No tempo arredio da minha erosão
No pendular sonoro de tua razão

Na noite do teu consumo
Baila a insônia da eternidade
Com a lucidez dos mortos
Uma véspera que não há surpresas

Sem tocar e sem ser tocado
Pelo desejo de um corpo bailado
Na dança que roda nas saias
As cores sopradas ao vento

Vivia em teus sonhos de chuva
O cheiro de terra molhada
As nuvens esverdeiam nas matas
O essencial da vida em ser feliz  

Da morte mais-que-perfeita
O Deus alimenta nas redes
Nas águas dos sobreviventes
A fé na profecia dos tesouros 

No ar que respira a areia
À tona da profundeza da alma
As marés de envelhecer o tempo
Liberto nas aves as asas de azul

Da morte que rouba o futuro 
Na boca resseco o teu amor líquido  
Do abandono de um mundo pequeno
Restou-me viver um amor inusitado 

terça-feira, 6 de agosto de 2013

O pecado imortal


Lenine MTV Acústico - O Silêncio das Estrelas

Da vida tão de repente
Do vivo e do morro 
Da noite e do dia
Às margens do mundo
Cego de um rio além da curva

Furto-me da surpresa da morte
No canto que embeleza os pássaros
Quiçá numa noturna cova rasa
Semeio o corpo em cansaço
No repouso do filho ausente

Na chuva que lava o passado
De passageiro do mundo
Em cada grão faço-me terra
No seio seguro o amparo
Desperto num corpo de areia
     
Na transição dos universos
Decomponho  à luz da dúvida
A desgraça das guerras
A miséria da paz
O chorar magoado das eras

No vento que te abraço
No teu doce degustar das uvas
Meu constante sussurro nos rios
No calor em que te aqueço
Surpreenda-me com a tua luz

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

SEM FANTASIA [Chico Buarque]


MARIA BETHÂNIA E CHICO-SEM FANTASIA [Chico Buarque]-Canecão CHICO E BETHÂNIA AO VIVO setembro de 2001