quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Versos imprometidos


Eleni Peta performing Astor Piazzolla's "Oblivion" (J'oublie)
On stage with Al Di Meola, Panagioti Margari and Fausto Beccalossi

Respiram sonolentas vagas
Sopram na pele a calmaria
A chuva cobre o oceano
O sabor do solitário Deus

Cadentes solidões de estrelas
Cravam o azul de amar profundo

O corpo queda em terra fresca
Esvai os versos que nunca não foram
Das emoções imprometidas
A exaustão dos olhos do tempo

O pecado clama a inocência
Na boca dos condenados

Saudade que reluz na linha d'água
O brilho adolescente dos sonhos
Lembranças de porvir enluaradas
Na ingenuidade dos inocentes

Angústia ácida que corrói nas veias
Na asfixiante aridez a solidão das eras

Amores contam estórias
Modestos sonhares de eternidade
D'uma felicidade refenecida
De um infindo olhar de riso

O tempo não se apaixona
Arrasta impiedoso os arrepios da pele

Sonha o voo de outras estórias
Voltar por caminhos nunca idos
Num descobrir o inatingível
Amar a face oculta da lua

Desbravadas metáforas desnudas
Em surpresa abismam enlouquecidas

Pousa a pena na palavra
Espalmadas mãos de alçar-se ao voo
Voar como se fora o eterno
Pousar memórias de outro ser

Amar magias de eterna cruz
A luz reluz dos amores líquidos

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

DEUS VÊ TALVEZ COM AS PÁLPEBRAS DESCIDAS

Deus vê talvez com as pálpebras descidas 
e assim vê o nosso espírito como um halo ténue
ou uma sombra que estremece mas contínuamente se levanta
É ele que sustenta a nossa integridade vertical
com a sua imóvel respiração incessante

Que dificil é ser o alvo desta atenção divina
como se fôssemos apenas o aro vazio de um puro abandono
Mas é nesta entrega passiva que nós somos
mais do que órfãos de um útero materno
e nos erguemos à transparente pedra
da nossa renovada identidade

Só nesse cimo branco renascemos livres
porque nos entregamos à silenciosa respiração
do ser divino que atravessa o nosso sono
e faz resplandecer a nossa incerta ignorância

António Ramos Rosa, In "O deus da incerta ignorância seguido de Incertezas ou evidências", 2001 
Hoje, nesta segunda-feira em Lisboa, aos 88 anos, morreu um Poeta. 
Viva para sempre a sua obra.
António Ramos Rosa, natural de Faro, um dos nomes cimeiros da poesia contemporânea, escrita e dita em Língua Portuguesa. Autor de uma das obras poéticas mais extensas e marcantes da poesia portuguesa contemporânea, juntou-se àqueles em quem poder não tem a Morte. Possa a sua poesia continuar a desinquietar-nos, a não nos deixar descansar em Paz. 
Hoje morreu um Poeta. Que a nossa inquietude agite e dê vida à sua Obra. 
Para que possa o Poeta ficar em Paz.

A Pedra 

"Não sei se respondo ou se pergunto.
Sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio.
Estou um pouco ébria e estou crescendo numa pedra.
Não tenho a sabedoria do mel ou a do vinho.
De súbito ergo-me como uma torre de sombra fulgurante.
A minha ebriedade é a da sede e a da chama.
Com esta pequena centelha quero incendiar o silêncio. 
O que eu amo não sei. Amo em total abandono.
Sinto a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente.
Indecisa e ardente, algo ainda não é flor em mim.
Não estou perdida, estou entre o vento e o olvido.
Quero conhecer a minha nudez e ser o azul da presença.
Não sou a destruição cega nem a esperança impossível.
Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra."

António Ramos Rosa (1924-2013), uma vida dedicada à poesia

http://www.publico.pt/cultura/noticia/morreu-antonio-ramos-rosa-1606787


No encantar das estrelas


Eleni Peta performing live "Cancão do Mar" of Ferrer Trindade and Frederico de Brito with The Plucked Strings Orchestra of the Municipality of Patras - GREECE

Quando a noite pousa nos pássaros
No encantar das estrelas que vestes
Repousas nas tuas asas de leito
Num confronto ao trono dos deuses

O Olimpo de purgatório dos onipresentes
Na existência crua dos semideuses

Ao peito acolhes nos braços a noite 
Sois o exílio dos laços maternos
Sobre o manto da solidão de todos
A nua existência sobre o travesseiro

Cedo ou tarde, a sorte ou a morte
Num sonho à deriva que lhe vem à boca 

Reacendes das cinzas o minuto de fogo
Nas palavras recolhidas do jogo
Do indecifrável mistério da vida
Resta-nos nada, resta-nos tudo 

Resta-nos quase o que poderíamos ser
Sem antes morrer com a perfeição dos mortos

Pensamentos que tudo arrastam
Devastando as dunas e os oásis
Na quietude calada da fronha
As lágrimas absorvendo as dores

Pedaços de sonhos dispersos no ser
O que a vida observa e não responde  

Sonhos da ânsia de presentes deleites
Reféns do delírio de outras lembranças
No desejado sabor doce de outros frutos
No passado intocado das copas das árvores

Não morrem do sonhar como destino
Os sonhos que sonhara sonhar em sonho

O silêncio teima em pulsar o coração
Na respiração lenta do vento
Acalentas nas mãos o tato descrente
Na presença de outro corpo que inventas

Intocada carência na carícia da alma
No diálogo silencioso da mulher que te fazes

Agora não és a mulher que adormece 
De vastos oceanos e imensas vagas
Num inventar de sonolentas carícias
Apenas dormes no despertar da criança

Sobre o mudo criado os ponteiros observam
Na janela do sonho o amanhecer do novo dia    

domingo, 1 de setembro de 2013

En la poesía de ensueño [No sonho da poesia]


Yesterday I Heard the Rain

Sin tus partes del cuerpo que me miran
No en sus curvas me va a perder
A despecho de su piel perseguir los labios
Tú no entrarás en los senos se convierten amante

No los momentos sublimes de su sudor
Tampoco se ve la transparencia de sus prendas
Lo haré ni ceguera en tu acantilados
La caída profunda en sus deseos

Mi delicadeza no se toque la cara
En contacto piel suave se negará
Los dedos se resisten al tacto de seda
En el cabello seducido no quedarei

No es el temblor de su cuerpo desnudo
El debilitamiento de la estructura de mi ego
En el suspiro no respire placeres
Calo mi grito silencioso de tu vientre

No entregar a sus labios húmedos
Mi deseo gusto voraz boca
No saciar su saliva en mi desierto
Muere en los bordes de su fresco  oasis

No los toma el sabor de la piel
El sabor de la sal que me nutren
Ni el olor caliente que provocas
En el viaje de fuego a través de su cuerpo

No sé el rosa ansiedades
En tu vientre del feliz floreciente
El secreto de tu amante febril
La pureza ni el sabor ardiente

No me toques con tu magia
No me seducirá con sus susurros
Yo soy todo lo contrario de sus deseos locos
Todavía és sueño despierto en la poesía