quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

O corpo é presente, a vida é passado


Paco de Lucia & Al di Meola & John Maclaughlin - Manhã de Carnaval [Luís Bonfá-Antonio Maria]

De tudo para um mundo pronto
Do nada como um ser vazio
O corpo em cada estação de vida
Numa esfera em rolamento

Da servidão escrava da mente
Na ausência de sabedoria
De um todo é parte ilusória
De um presente real aparente

No pensar o passado distante
Em velhos conceitos estacionado
Na inversão do contemporâneo
O mito das raças reinventado

Ilusória contemporaneidade
O corpo mente e se faz presente
A mente apenas vive, olha e sente
As quimeras do século XVIII

Sempre nasce um primitivo
Das cavernas de Lascaux
Há quem diga: Eu não sabia!
Num genocídio sempre vivo

Se quem escolheu foi o coração
No outro nem se sabe uma razão
Enquanto não reconhece no coração
Ainda que finda não se encontrará

Se discrimina num consentir calado
Por um querer que sejam raças
Outras querenças em desgraças
O corpo é presente, a vida é passado

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"Para saber de mim, preciso passar pelo outro" - Lacan

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

The man. The master. Who is Paco de Lucia?


Paco de Lucía, nome artístico de Francisco Sánchez Gómez, foi um guitarrista espanhol de flamenco reconhecido internacionalmente.  Nasceu em Algeciras, Cádis - Espanha e faleceu em Cancún, Quintana Roo - México. Fez carreira como compositor, produtor e guitarrista.
Em 2004, foi distinguido com o Prémio Príncipe das Astúrias, como "um músico que transcendeu fronteiras e estilos". As suas principais influências, para além do seu pai, foram os guitarristas de flamenco Nino Ricardo, Miguel Borrull, Mario Escudero e Sabicas.
Paco de Lucía [Algeciras, 21/12/1947 — Cancún, 26/02/2014] 
The man. The master. Who is Paco de Lucia?
http://www.pacodelucia.com
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Paco de Lucia - Entre dos Aguas [Paco de Lucia]
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Larry Coryel , John McLaughlin , Paco De Lucia [Manhã De Carnaval - Luis Bonfá e Antonio Maria]
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Paco de Lucía Concierto Aranjuez - Adagio [Joaquín Rodrigo]
Concierto de Aranjuez - Adagio. Composición para guitarra y orquesta del compositor español Joaquín Rodrigo.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Se nenhum segredo nos define


Pétala  -  Djavan

Guardas todos os teus segredos
Sob o perfume que inalas
Sacia-os com o suor da tua pele
Profana o silêncio com o teu silêncio

Num gemido prolongado aos ouvidos
Deitas no tempo lento das pedras
Murmuras por entre elas como a água
Saciando a sede da própria raiz

Teu corpo ocupa a sombra do dia
Navega no espaço do imaginário
O corpo sabe que se procura
No desejo em que se despe

Os olhos vagueiam no lume
É noite em tuas palavras nuas
Flamejante calor que escondes
Na fria sombra do seu ventre

Para que não morra o corpo
Na senectude da hora incerta
O corpo navega pelo exato
Na paixão incerta de outro corpo

Não és o segredo que reprime
A selvagem miséria e a música suave
Mas a dor entre o amor e o teu grito
Como a única nascente que sacia

Se a liberdade de ser livre te condena
No passado e futuro o medo presente
Entre a natureza de ser e não se ver
Em nós a perfeita incompletude criada

A vida pulsada não nos basta
Não basta a vida entre o amor e o ódio
Nem tu em mim tudo nos cala
[Nem tu basta, nebulosa vasta, tão vasta]
Somente aos mortos basta o segredo


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Um dentro e fora todo fatal


O Meu Guri - Chico Buarque

Pulei o muro do manicômio
Quem se importa como?
Se de dentro para fora
Ou se de fora para dentro?

Só sei que o muro é branco
Um todo branco tudo igual
Um dentro e fora todo fatal
De loucos iguais aos loucos

Alguns tem sonhos brancos
De não saber escrever seus nomes
Carregam as vidas sem história
São enlouquecidos pela ignorância

Outros são os do "faz de conta"
Se nos encontram são soberbos
A vaidade lhes corrói as almas
Se revestem de um branco Lítio

De tão loucos se acham felizes
De tão roucos ninguém os escuta
Sentem uma alegria de três prótons
Orbitam a esperança de três elétrons

Se equilibram em cima do muro
Titubeiam no bolso cheio de pedras
Curvam de risos dos demais loucos
Seriam os tripolares da felicidade?

Outros são amantes de Calipso
Com a toxina botulínica de vaca
A expressão sempre igual a ontem
Nos olhos à contemplação asiática

Querem ser loucos e loucos eternos
Fazer da eternidade uma loucura
Um baile dos diabos dançando com anjos
Deus e o Capeta degustando as pururucas

Sempre misturando cerveja com Litio
Deus e o Capeta estão sempre loucos
Estão sempre apostando na dúvida
Se pulam para dentro ou para fora do muro

Qual louco pensa que é louco?
Quem muito pula, um muro pula
Fica a dúvida. De dentro para fora
Ou de fora para dentro?

Pode ser muito louca a vida
Falam sobre tudo e sobre todos
Dizem coisas até assustadoras
Que a vida é uma loucura passageira

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Por mais um minuto apenas [1]


Sobre Todas as Coisas [Chico Buarque] Maria Rita

Um coração cinza de enganos            
Se em teu leito nas calçadas              
Mesquinhei-te o olhar e o pão          
Engano teu, quem se enganava era eu   [...]

Minha dor senil se acomoda                
A dor não dói, são meus tesouros      
Vão-se meus domínios de agonia      
O lume da vanglória em desespero  
Quis mais... Muito além do proibido   [...]

Nem excesso e nem por fuga                
Se tudo pude ao gosto                              
No desejo de todos os sabores            
Saciei-me mais que a fome
Desdenhei da fome alheia    [...]

Os fantasmas fazem a dança
Labaredas de ódio e de rancor
A desonra há em muitos corpos
A escravidão em meus instintos
Alimento a face em guerra oculta     [...]

Encontres o amor e meu pecado
Sofro ainda mais se estás feliz
Não quero apenas seus tesouros
Se teu prazer me torna aflito
A sua felicidade causa-me dor      [...]

Tudo tive sempre ao gosto
Para um mundo sem vontades
Nem fiz pressa das escolhas
Admirei-te, averso ao teu esforço,
Só no ensejo em ser recompensado   [...]

Tantos prazeres que dei tato
Em quantos corpos meu deleite
Beijo alguém somente aos falsos
Fiz-me da vantagem o meu desejo
Não raro em corrupção tamanha      [...]

Ante o abismo que me espera
Perdí-me à luz do anjo caído
Nem o nirvana e nem o éden
Foram-se todos em promessas  
Restou-me o agora tão sozinho    [...]

Só neste segundo dei-me conta
Há um demônio em cada espelho
Seduziu-me, roubou-me as horas
Pudera quebrá-lo e não consigo  
Quisera voltar tantos momentos    [...]

Se a justiça sempre tarda
Nem a humana e nem a divina
Só reconhecí nos dois extremos
Pelo prazer que ora sofro
Contido e sábio é o equilíbrio    [...]

Nem a imagem ou semelhança
Foram as ilusões e as promessas
Nem o eterno ou tão perfeito
Teria a imagem do Divino
Se depois do verme fui criado   [...]

Por este lúcido momento
Valeu-me caro a vida inteira
Dos instintos o abandono
Olhai-me e minh'alma indaga
Se te reconheces no minuto findo   [60]