domingo, 5 de maio de 2013

Um amor nasce do caos



João Bosco - Desenho de Giz


O tempo...
Avança sobre os ponteiros
Na eterna lua de alabastro
Que atravessa a noite
Como um grito de sol

As palavras suspensas no vento
Caem da torre feito folhas
Num sombrear meticuloso
No escolher as cabeças

Revelam a palidez do mar
Flutuam nos fragmentos das almas
Nas memórias perdidas
Nas palavras ocas
No ecoar do delírio sonhado
No mistério

O amor voa num meteoro
Num raio de luz
Nas almas em cruz
Nascidas na ira de Deus

Numa nebulosa metamorfose
Homens tornando felinos
Mulheres virando peçonhas
Uma sucessão de semideuses
Na inconstante palavra metamórfica
As mãos do ódio esgana o amor
No transformar de pessoa em pessoa

Entrelaça o pescoço do ódio
A híbrida relação rarefeita
A morte traz a franqueza do caos
No renovar dos velhos conceitos

O escuro amor contínuo
No solitário, no incompreensível
No cego, no perdido de amor
No coração o medo asfixiado
Num impossível morrer

Reinventar à vida
Um amor em ondas
Que abraçam as pedras
Rasgam as folhas
Com as mãos do vento
Rufando tambores
Amanhã eu fico triste
Hoje não
Hoje um amor nasce do caos

O tempo...
Recolhe as horas de vida
Mundo sem sol
Num mar sem sal
Dos pedaços de amor
Das despoesias

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