Monica Salmaso - Noite [Nelson Ayres]
A noite acende os vaga-lumes
Chove o cinza cansado de nuvemOs pingos tortos desenham as árvores
Molhando de verde o cheiro do mato
As palavras que colho não sabem morrer
Na pele do teu corpo ainda suam
Ofusca os lumes o brilho da bela
As curvas sensuais vestidas de lua
Tua súbita vida, paralisa e gela,
Na janela o medo no farejar do vento
Indaga-me, sobre a cama, o amor que resiste
No teu corpo um adeus que nunca houve
Das seduções as formas da flor
Os segredos inatos no guardar a vida
Tão secretos como o velho mundo
Faz-se, tão bela e nua, a vida no desejo
O alento embriaga a sede de amar
O instante da saudade descompassada
Colhes do rosto o sorriso esquecido
Dos anjos o despertar do tempo
Traz o tremor que temeu a luz
O primeiro instante do beijo
A gota ainda sangra a lucidez e a loucura
O insaciável desejo do entrelaçar dos corpos
O olhar soprou aos meus ouvidos
No espreguiçar noturno das cidades
Dorme o perfume nos teus cabelos
O desejo que mora nos teus sonhos
A ausência sopra no pensar alturas
O teu chão que falta nos meus penhascos
Da vida basta um dia de existência
Do tempo um só momento de abraços
No escurecer as luzes no beijo
Na única sombra de dois corpos
Esquece o poeta, os versos escritos
à sombra das árvores
O amor sonha navios
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