sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

A casa do eco



Sem você - Paula Morelenbaum [A C Jobim/V de Moraes]


Vazia de mim tu fostes
Sem talvez
Com a leveza da pluma
Pairando no ar feito esquecimento

Despiu-se do eco da casa
Vestiu-se de mala
Partiu-se em si mesma
Para amar-se de vida

Restou-nos a essência
Dos teus objetos
Nesta casa vazia de ti
De resto foi por consequência

Das poucas lembranças que olham
No chão ao avesso
Dos tempos que se tornaram coisas
No mundo da casa sem alma

As janelas buscaram a tua imagem
Acenando com as desbotadas cortinas
O adeus comum de todos os homens
De todas as cidades adormecidas

Sem primaveras cruzaste o rio
Levando contigo todas as flores
Por consequência das borboletas
Planaram sobre a ponte dos sonhos

Na sala do espanto respiro
As paredes que se calam brancas
Apontando sobre a cômoda
As cartas que escreves se voltas

Sobre o rio faço-me ponte
Ligando-nos no nada ao lugar nenhum
Dando-te asas para voar
Pousares entre os meus sonhos

Na penumbra dos quartos da lua [crescente]
Sobre o leito de lençóis desfeitos
Trazes o campo das miúdas flores
Estampadas com teu carmim

Nas delicadas vestes de amores
Das tuas suaves cores de querubim
Num talvez na solidão do mundo
Sejas tua voz o eco que escrevo