sábado, 22 de fevereiro de 2014

Se nenhum segredo nos define


Pétala  -  Djavan

Guardas todos os teus segredos
Sob o perfume que inalas
Sacia-os com o suor da tua pele
Profana o silêncio com o teu silêncio

Num gemido prolongado aos ouvidos
Deitas no tempo lento das pedras
Murmuras por entre elas como a água
Saciando a sede da própria raiz

Teu corpo ocupa a sombra do dia
Navega no espaço do imaginário
O corpo sabe que se procura
No desejo em que se despe

Os olhos vagueiam no lume
É noite em tuas palavras nuas
Flamejante calor que escondes
Na fria sombra do seu ventre

Para que não morra o corpo
Na senectude da hora incerta
O corpo navega pelo exato
Na paixão incerta de outro corpo

Não és o segredo que reprime
A selvagem miséria e a música suave
Mas a dor entre o amor e o teu grito
Como a única nascente que sacia

Se a liberdade de ser livre te condena
No passado e futuro o medo presente
Entre a natureza de ser e não se ver
Em nós a perfeita incompletude criada

A vida pulsada não nos basta
Não basta a vida entre o amor e o ódio
Nem tu em mim tudo nos cala
[Nem tu basta, nebulosa vasta, tão vasta]
Somente aos mortos basta o segredo