quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Na janela do tempo


Na luz tênue refletida
A saudade aérea e rarefeita
Consome um naco e tanto
De uma parte de mim
Apago a luz e não verei

Pior que a insistência do vazio
Sob o manto da escuridão
Qual indecifrável esquecimento
Ser a dor constante enfim
Acendo a luz e não sentirei

Os lábios confessarão o segredo
Que na musicalidade de um beijo
O coração descompassa o ritmo
Buscando a harmonia do desejo
Tapo os ouvidos e não escutarei

Almas se mesclam em energia
Plenas no silêncio das palavras
Muito além das carícias que enseja
O instante absoluto do momento
Paro no tempo e não calarei

Sem limite de esperança
Na ansiedade da espera
Pudera o firmamento
Dissimulasse de jasmim
Sob a luz divina e findarei

Passante pelos vários mundos
Desvendando todos os segredos
No tempo que os manifestar
No curso dos teus sagrados dias
Sei, até lá saberias, mas eu não mais existirei

Pelas palavras


As palavras que ontem voavam soltas
Sem sentido como a vida esguia
A vontade da alma quando o corpo seguia
Estas mesmas palavras aguçando o presente

Agrupando-se, declarando a tua falta,
impunemente...
Denunciam sem lógica distância o teu amor
N'algum lugar extremo, no vazio das minhas mãos
Rebeldes palavras num jogo de frases em nãos

Formando um sentimento de vida própria
Represando águas, refletindo a tua ausência
Numa superfície de sinônimos da minha imagem
Reescrevendo as gotas de chuva sobre a tez
Mesclando-as em lágrimas tais poesias e canções

Criando aos milhares os meus sonhos e fantasias
Trazendo a miragem dos teus olhos aos olhos meus
São tuas palavras que correm soltas pelo vento
Em ventanias elevando as folhas, a areia da praia
Formando as ondas na superfície das tuas pegadas

Um corpo moreno de sol em adjetivos plenos
Sob os guarda-sóis com o dia a pino
Palavras buscando palavras
Perdidas numa tardia praia deserta
Recolhendo palavras como conchas vazias

Criam vida, rebeldia e denunciam
Que o amor aconteça antes da morte
Aprisione-as antes que tardia em poesias
Antes que tarde seja como morrer de amor
Pois se morro em palavras, não te digo