domingo, 30 de janeiro de 2011
Na janela do tempo
Passa o vento sorrateiro
De mansinho pelas arestas
Em silêncio pelas frestas
Sem farfalhar as folhas no canteiro
Emoldura a janela a mulher debruçada
No olhar o infinito que não alcança
Pensamentos vão e voltam na balança
Os passarinhos reverenciam em revoada
Se o tempo é o melhor remédio
Com as horas marcando o cansaço
Guardo em seu peito o descanço
Despertando em descompasso o tédio
Aprendi a mentir que te esqueço
A enganar-me em outros enganos
Desconstruindo as formas pelos anos
Na gota de tua essência ora cresço
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
Uma flor sobre os escombros
E o mundo se fez
Com formas e ciclos
Invertendo os sentidos
Na linha do equador
Elevou continentes e cordilheiras
Aprofundou o solo e os vales
Vestiu com gêlo, areia e florestas
Derramou nas águas o doce e o sal
Em quatro estações o clima
Uma excelência em cada uma
Se verão uma primavera
No inverno do outono
E a vida se fez bonita
E o homem por consequência
Criando sonhos, o impossível
O universo paralelo das necessidades
E a impermanência se faz perfeita
Como os sonhos se transformam
Diante da beleza do imperfeito
Deixamos uma flor sobre os escombros
~.~
Em solidariedade a Região Serrana do Rio de Janeiro
” Os políticos têm memória de mandato de cinco anos, a Terra de milênios. ”
Olivier Lateltin
sábado, 22 de janeiro de 2011
O Eclipse
Corre-corre, pula-pula, brincam as crianças
No jardim de flores farfalham as folhas
Entre as árvores passarinhos saltitantes
Radiante faz o dia a dia dos passantes
Um espanto paira sobre as cabeças
Pouco a pouco desfazem as escolhas
Entre as poucas nuvens distantes
A penumbra cobre os olhos diletantes
O encontro marcado de esperanças
Escrevem rimas no branco das folhas
O lume dourado e o prateado consonantes
Personificam um corpo e uma alma rutilantes
Os seresteiros esperançosos de lembranças
Numa dança unem pares sem escolhas
No meio do céu dos astromantes
Embalem cantigas apaixonantes
O sol clamando os poetas de esperanças
No coração a lua inspire a quem olhas
Sem o inverno das paixões lacrimantes
Da solidão resguarde a inspiração dos amantes
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
Memória
Dormes amena serena
Teu sono suave embala
Os sonhos de outrora pequena
Os segredos guardados na mala
Muitos mistérios na descoberta
Num universo a cada lembrança
A emoção que o coração aperta
Reaquecendo aquela esperança
No livro a estória escondia
As viagens com mil destinos
A cada página uma alegria
Da bailarina aos violinos
Ficou na memória infanticida
O sonho simples de ser feliz
Pelo que ora somos esquecida
Por tantos quesitos nos contradiz
Intrínseca natureza nos conduz
Na insaciável certeza do ser
Buscando razões que nos induz
Afinidades para o amor acontecer
Na lógica razão do medo
Nos torna intransponível
Entre mulharas de degredo
O simples em desejo impossível
O mundo tão bonito
A natureza tão perfeita
O amar simples explícito
Nos tornamos em desdita
O próprio amor
Hoje não há estrelas
O ar úmido paira abafado
Nas torres não há sentinelas
Estático, um coração apertado
As luzes cintilando na água
O depois da chuva na rua
O farfalhar de folhas que apazigua
A contínua ausência da lua
Tão somente uma estrela
O guia para um norte
Uma janela sem tramela
No olhar sem rumo ao horizonte
No caminho sem ter para ir
Guardando pedras no ventaval
Um pranto disfarça em sair
Do caule o espinho arestal
O pensamento entre tantas vozes
São presenças que locomovem
Ausentes de afeiçoar o sonho
Num encontro que se contravêm
Um sonho sem parceria
Num beijo sem a outra boca
Na constância em viver agonia
Uma arejada flor que sufoca
Se resta ao pranto o alívio
Se falta a estrela ao destino
A vida se faz em declívio
Coube ao divino o desatino
No roçar de mãos solidárias
Apenas os corações sem rosto
Nas confissões solitárias
Solidão em sublime interposto
Magestosa se faz companheira
Dirimindo todas as mentiras
Em outrem que a si imbuíras
Revela em si a busca verdadeira
Encontra, o amor dorme sereno
Rara dádiva para outro ser feliz
Ileso o corpo moreno
Na alma persiste a cicatriz
Cabe em si mesmo os destinos
Saber-se o porto seguro
O corpo e alma genuínos
Só o amor lance em futuro
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