Quase memória [Chico Buarque e Edu Lobo]
Quem nos dera
Se todas as quimeras
Fossem todas primaveras
Transbordassem das auroras
Como um manto sobre o inverno
Quem nos fosse
Se aos todos os pudesses
Em todo drama se antevisses
Se faz dele o que prouvesses
Como um mantra sobre o eterno
Quem nos chama
Se na escuridão reclamas
O tato gélido das damas
Sem o cordial calor nas chamas
Como um anjo foste ao inferno
Quem nos ama
Se no poder proclamas
Se num vigiar reprimas
Ser o amor que vive alfamas
Como nunca descrepuscular interno
Quem nos une
Se na união que pune
Se o ciúme faz o impune
Na acidez corrói imune
Como se alimentasse o subalterno
Quem nos urros
Se não desnuda os obscuros
Se ao revés dos nascituros
Somos um dentro dos muros
Como um não passarinhar alterno
Quem nos ramos
Se em coroa de espinhos vamos
Se na mala um mundo de reclamos
Somos água em ruas de paralelogramos
Como um mágico escorregar no eterno
~.~.~.~
Descrepuscular em poesia
O ser da poesia quando ama
Não são amanheceres, nem auroras
Mas, um redescobri-se em vida
Só pode ser qual renascer em poesia
Como uma moça bonita que se re-encanta
Quando sussurra e canta se retira ao sério
Se fala ao sério num desmanchar palavras
Nenhum termo que não deslize aos braços
Se ama, ama o livre e cuida tanto que o liberta
Se o condenas, o condena em tua liberdade
Se tem um fim, será sempre junto ao recomeço
Se ama amar e de tanto amar a dor ser poesia
Descrepuscular-se é para não morrer em vida