Paco de Lucia & Al di Meola & John Maclaughlin - Manhã de Carnaval
A noite persegue suspeita intranquila
Albergues transbordando aos poucos
Alguns acabrunhados com a fila
Outros, nas calçadas, clamando roucos
O mundo de arredondadas pessoas rodava
No olhar indiferente nas mesas decoradas
O vazio inane da fome não reclamava
A outra metade lastimava o sabor da comida
A alegria ainda em trégua comemorava
Nos segundos calados das armas o alívio
No bloqueio das barreiras a dor se angustiava
As nações engolfando os reles sobreviventes
As torres religiosas acusavam aos céus
Numa oração concêntrica e enigmática
A paz está contigo, mas não está conosco
Secando os olhos mundanos nos mausoléus
No contra-senso de corpos deitados ao chão
Das heresias, blasfêmias, disparates e abusos
No paraíso as crianças crivadas de balas brincarão
Na cruz com as mãos pregadas por estilhaços
Sob o capuz as coroas cavadas de mais poder
Não há duelos de paz entre os nobres purificados
Dogmas indecentes de chagas e carnifazer
Comovem-se na auto-sangria dos abcessos
Ostentam as jóias raras da indulgência
No eterno espelhar dos semelhantes
Perpetuando a exiguidade sem clemência
Esquecemos na cordura de ser nós mesmos
Criação de heróis, mitos, deuses e símbolos
Inventando armas sobre os porões de pólvora
Blindamos o corpo contra o ser humano
Criamos a eterna ira insaciável dos frívolos
Inventamos heróis como criamos a fome
Recompensar com troféus e a infinita justiça
Manipulamos para a desigualdade social
Soberanos adornos de animais no cognome
Num suspiro em 3 segundos uma vida se esvai
Desdenhando o jejum involuntário da pobreza
Subornando com o indulto para os pecadores
Viver o rico que não dá esmolas à avareza
Peregrinação causal de todos os sulforetos
Na fé cega da escura cruzada contra o terror
Reflorestando o cerne do imaginário
Colorindo oceanos com plenos dejetos
As mãos guardam sementes da sobrevivência
Guerras santas insistem lutando por territórios
Armas criando as guerras silenciosas pela água
Mentes adormecidas inaptas de coexistência
Extinguiu-se a simbologia maniqueísta
Findou-se o bem, findou-se o mal
Somente o medo em recriar do antropoteísta
Aos desavisados. O mundo acabou há tempos!
Poesia fantastica neste olhar critico cheio de reflexões sobre uma sociedade que se cala e falha em toda sua trajetoria. Aplausos.
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