domingo, 11 de agosto de 2013

Um sopro de outros ventos


Caetano Veloso - Meditacion [T.Jobim & N.Mendonça]

Se deitas a simples lembrança
Numa noite vivida de chuva
Restaria o perfume nas pétalas
Das recordações que te amam

No vento que leva as horas 
No caminho do tempo 
Sopram em pensamentos
Os dias de se mudar o rumo

Restou-me o silêncio da morte
No asilo da tua ausência
Descolorida memória de sombras
Num destempero nas folhas

As fatalidades te guardam 
Em teu solitário engano
Dos segredos de uma vida eterna
Sem os pulsares dos corações

Deixo esse amor fora do corpo
Nos rios que rolam as pedras feridas 
No tempo arredio da minha erosão
No pendular sonoro de tua razão

Na noite do teu consumo
Baila a insônia da eternidade
Com a lucidez dos mortos
Uma véspera que não há surpresas

Sem tocar e sem ser tocado
Pelo desejo de um corpo bailado
Na dança que roda nas saias
As cores sopradas ao vento

Vivia em teus sonhos de chuva
O cheiro de terra molhada
As nuvens esverdeiam nas matas
O essencial da vida em ser feliz  

Da morte mais-que-perfeita
O Deus alimenta nas redes
Nas águas dos sobreviventes
A fé na profecia dos tesouros 

No ar que respira a areia
À tona da profundeza da alma
As marés de envelhecer o tempo
Liberto nas aves as asas de azul

Da morte que rouba o futuro 
Na boca resseco o teu amor líquido  
Do abandono de um mundo pequeno
Restou-me viver um amor inusitado 

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