sexta-feira, 29 de março de 2013

Ensina-me a voar



Hable Con Ella  [Pedro Almodóvar] of "Raquel" By Rufino Almeida & Africa Nostra, from the album "Tôp d'Coroa" by Bau.

Elevas na ave ferida
No teu voo incompreendido
Na pura liberdade de ser

Tecendo no céu as palavras
Em rede de linhas frágeis
O medo que desampara o mergulho

Não voes para os lados
Não voes para a frente
Voes para dentro de si

No afã amoroso da vida
O vento adverso nas asas
Faz do equilíbrio o mais belo voo
Em ti a criação mais valiosa

A lua no céu da boca



Hable con ella [Pedro Almodovar]soundtrack [Soy Marco]

Na florada que sobrevoas
O mistério das tuas matas
Busco nas sombras do vale
A semente em que germino

És o voo que se anuncia a esmo
No caminho do vento que se abre
Entre o espaço do céu e das aves
O vazio que cresce dentro de mim

No abismo que me entrego às cegas
Na tua lembrança amorosa
Desperta o meu universo suicida
O tremor despido das tuas vestes

Das tuas águas nasce-me a sede
No palpitar contido nas corredeiras
Deitas o poente do teu corpo
As linhas curvas do horizonte

No céu da tua boca ecoa
O desejo que toca o beijo
Na tua respiração emudecida
O infinito gozo do teu corpo


Ainda que a minha voz
Caída nas folhas molhadas
A espera pelo teu gosto
Renasço no teu sussurro da noite

No caminho que te percorro
Minha espera se perde no abraço
Sobre a tua pele arrepiada
No tato da minha mão que não sacia

No êxtase da tua vida embebida
Deito o meu sonho submerso
N'outro lado da tua tempestade
Dormirei o teu sono das divindades

Derramei o chão que fluem teus desejos
Na imensidão do sono dos afogados
Das pétalas a ânsia do teu aroma  
Durmo o eterno na saudade do teu sonho

Quando tu fores de mim
No meu voo de sobrevida
Levas a saudade nas asas do vento
Deixas na morte o ser que desconheço


quarta-feira, 27 de março de 2013

As cartas de amor ao eterno



Paco de Lucía Concierto Aranjuez - Adagio

 I
Não posso libertar o delírio
No templo de todas as sombras
O amor que em mim criastes
Na clausura do que sonhei ter

II
Alço o voo de todas as promessas
Nas lágrimas que me sangram
No tormentoso labirinto do tempo
Nas emoções que brotam a pouca luz

III
No obscuro da paixão indecifrável
Sofro a dor nos outros olhos
O triste canto que hás de ouvir
No pássaro que em mim gorjeia

IV
No engano chegaram as mágoas
Nas lágrimas da insensatez
No desespero mortal de uma paixão
A cruel ausência que hoje causas

V
No tempo de agora o sofrimento
De uma serenidade apaixonada
Se encante na luz dos teus olhos
Uma nova afeição tão desejada

VI
Nesta clausura de insuportável dor
Sem poder debruçar nos teus olhos
Atravessastes os mares para perder-me
No desencanto de uma afeição eterna

VII
Na mais vislumbrante canção
Nos lábios os beijos perdidos
Despertos na bonita manhã
Perdidamente deslumbrada

VIII
Nos pulsos em que me corto
A esperança escorre em meu peito
O venenoso amor que agoniza
Da espera que nunca voltas

IX
Quando pousas no meu olhar
A boca dos meus desejos
O cheiro da pele que tu proteges
No vento que em se acaricias

X
Despertas o que vive em meu peito
O fantasma dos mil tormentos
A certeza que me abandonas
No caminho mais longo da morte

XI
Nas pedras que rolam no tempo
Marcando a aspereza das mãos
Deito as palavras que escrevo
Adormecidas na poeira do sempre

XII
Bem sei que nada sabes
O lamentar dos impulsos do coração
Descobrir no prazer da vida
O ódio e a aversão das tormentas

XIII
Se bem sabes que nem sei quem sou
Se o amor existe nas tuas cartas frias
Nas juras secretas do teu amor
Os suspiros, as lágrimas e a minha dor

XIV
Criastes o encanto da delicadeza
Das lágrimas que minh'alma chora
O sabor nas bocas dos pescadores
A doce morte em todos os mares

XV
Na metade do papel em branco
O coração que é teu se comove
Repetindo as mesmas palavras
Loucamente morres em terminá-las

XVI
Fostes nas palavras inacabadas
A saudade dos versos que escrevo
A poesia que desnuda os corpos
O amargo adeus de sermos nós

XVII
O sentimento sincero e ardente
Na metade em branco das cartas
Agonizo o pranto para lembrar-te
Somente no amor sou por inteiro

XVIII
Em fadada sina vier a morte
Nos olhos repousando a mortalha
Furta-me daquele que se aferra
O amor que fui sobre a terra.

XIX
Nunca o saberás do amor
Como a poeira que nos ignora
O que da própria vida transcende
As cartas de amor ao eterno

http://cdn.luso-livros.net/wp-content/uploads/2013/02/Cartas-de-Amor-de-uma-Freira-Portuguesa.pdf


domingo, 24 de março de 2013

No obscuro desejo


Al Di Meola - Misterio

Não posso libertar o delírio
No templo de todas as sombras
O amor que em mim criastes
Na clausura do que sonhei ter

Alço o voo de todas as promessas
Nas lágrimas que me sangram
No tormentoso labirinto do tempo
Nas emoções que brotam a pouca luz

No obscuro da paixão indecifrável
Sofro a dor nos outros olhos
O triste canto que hás de ouvir
No pássaro que em mim gorjeia

Nos pulsos em que me corto
A esperança escorre em meu peito
O venenoso amor que agoniza
Da espera que nunca voltas

Quando pousas no meu olhar
A boca dos meus desejos
O cheiro da pele que tu proteges
No vento que se acaricia

Despertas o que vive em meu peito
O fantasma dos mil tormentos
A certeza que me abandonas
No caminho mais longo da morte

Nas pedras que rolam no tempo
Marcando a aspereza das mãos
Deito as palavras que escrevo
Adormecidas na poeira do tempo

Fostes na palavra inacabada
Na saudade dos versos que escrevo
Na poesia que desnuda no corpo
O  doce engano de sermos nós

Na metade em branco da carta



Last Tango in Paris - Ikuko Kawai


No engano chegaram as mágoas
Nas lágrimas da insensatez
No desespero mortal de uma paixão
A cruel ausência que hoje causas

Nesta clausura de insuportável dor
Sem poder debruçar nos teus olhos
Atravessei os mares para te perder
No encanto de uma afeição eterna

No tempo de agora o sofrimento
Por uma serenidade apaixonada
Se encante na luz dos teus olhos
Uma nova afeição tão desejada

Na mais vislumbrante canção
Nos lábios os beijos perdidos
Despertos na bonita manhã
Perdidamente deslumbrada

Bem sei que nada sabes
Lamentar os impulsos do coração
Descobrir no prazer de viver
O ódio e a aversão das tormentas

Se bem sabes que nem sei quem sou
Se o amor existe nas frias cartas
Nas juras secretas de um amor
Os suspiros, as lágrimas e a dor

Criastes o encanto da delicadeza
Das lágrimas que a tua alma chora
O sabor nas bocas dos pescadores
A doce morte em todos os mares

Na metade do papel em branco
O coração que é teu se comove
Repetindo as mesmas palavras
Loucamente morto sem terminá-la

Do sentimento sincero e ardente
Na metade em branco da carta
Sobrevive o vazio para lembrar-me
Só se vive no amor por inteiro


quinta-feira, 21 de março de 2013

Emílio Santiago fica a sua obra!







Emílio Vitalino Santiago, nascido no RJ, em 6 dezembro de  1946,
filho adotivo, ele diz que deve tudo que conquistou à sua mãe.
Começou a trabalhar aos 13 anos.
Frequentou a Faculdade Nacional de Direito na década de 1970,
onde formou-se por insistência dos pais.
Começou a cantar em festivais universitários
nesta mesma década.
Nunca mais parou de cantar e encantar com sua voz.
Foi o homem, fica a sua obra!

segunda-feira, 18 de março de 2013

Ela chegou inesperadamente



Bau Inspiração (Rufino Almeida) Cabo Verde-Noite de Cabo Verde no Zènith
Zènith de Paris 28 Avril 2001


Ela chegou intensa e lenta
Como quem devora todos os sentimentos
Muito além de todas as músicas
Muito além de todos os textos
Acima de todos os pretextos

Em verdade...

Para o espanto dos excêntricos
Ela chegou feito o silêncio que escuta o vento
Sobre as folhas, sobre as lajes, sobre as telhas
Ela chegou sobre mim e meu nefasto tempo
Sobre a ameaça, sobre a dor, sobre o amor

Ela chegou sobre a falsa liberdade
Sobre os pedaços do coração
que rolam nos degraus da escada

Ela chegou sobre todas as máscaras
Sobre a disfarçada delicadeza
Sobre o duelo de todas as neuroses

Ela chegou sobre o atrativo e o assustador
Sobre todas as ambiguidades das relações
Sobre o luxuoso e  sobre o paupérrimo

Ela chegou sobre todos os desertos e os oceanos
Sobre todos os medos que fazem parte da dor
Corra, proteja-se!

E quem disse que falo do príncípio e do fim
Se o inevitável é a morte?
Falo da chuva sobre a fragilidade humana

domingo, 17 de março de 2013

Se espelho, espelho teu



Astor Piazzolla, Verano Porteno - Summer Trondheim Soloists. Artistic Director: Øyvind Gimse. Soloist Soyoung Yoon, violin. Hamardomen. Samuelsen Productions.


Tuas cores pintaram o arco-íris
No corrimão de outras vidas
A tua paz, a vida, a tua alegria
No desenganado pote dourado

Quando o vazio preencher a alma
No calor das labaredas os estalos
Os olhos de todas coisas te olharem
Sejas a alma dos desejos mais íntimos

Na calmaria de todas as velas
No sol que morre o poente à distância
Renasça da profundeza do teu horizonte
Tão nua, tão perto da lua de si mesma

Dentro de ti mora a tua dona
A felicidade que corre nas veias
Sangra por ti todos os teus desejos
A liberdade de todos os teus sonhos

No reflexo cotidiano da vida
No mundo pronto de ser feliz
Gritas: Espelho. Espelho meu.
Há quem se pensa mais que eu?

Na razão de ser da própria vida
Aprender a amar-se para amar ao outro
Para ninguém que te aprisiona vale
A felicidade que tu conquistas hoje

sexta-feira, 15 de março de 2013

A oração dos tempos



Violon - Ikuko Kawai - Tasogare no Waltz


Saciei em ti o sabor doce do fruto
Na amargura do meu tempo
A melancólica palidez humana
Na indiferença cruel que silencia

Quando na oração dos tempos
No teu corpo fazia a nascente
Nos teus olhos a água cristalina
Na boca do peixe que me flutua

Repouso no sorriso dos teus lábios
A tua felicidade em que me procuro
No desejado dia amanhecido
Nas preces à compaixão dos homens

Lamento as guerras do meu medo
Fartei-me na vitória dos mortos
Da tua carência vivi o meu desejo
Dói-me a doença que não se cura

Na flor da terra de outros povos
No desprotegido semear do coito
As crianças morrem de infância
Na gravidez desumana da alma

Quando na oração dos tempos
Os templos pouparem sua herança
Nas tuas mãos abrirem os oceanos
N'outro continente repousar as preces

Se de um lado há dor e sofrimento
Do outro lado basta-me de indiferença
Jamais morrerei em mim tantas crianças
Na soberba indiferença dos povos
~.~
"A África além de serem afetados por inúmeros problemas, como a fome, conflitos, pobreza também passa por uma imensa crise de AIDS que teve inicio dos anos 80, onde que a doença atinge todas as classes sociais e já matou mais de 20 milhões de pessoas em varias regiões da África do sul."  A epidemia de AIDS condena, principalmente, as crianças que nascem contaminadas durante o parto.  Centenas de crianças morrem por falta de tratamento e as que são tratadas morrem por falta de medicamentos.
http://www.africaurgente.org/epidemia-de-aids-na-africa-video/


quinta-feira, 14 de março de 2013

O amor eternizado



Bau - Filosofia - D'abord repéré comme accompagnateur de CESARIA EVORA (à partir de 1991), puis son directeur d'orchestre (de 1995 à 1998 -- il est l'auteur des arrangements de l'album « Cabo Verde »).

Se te deixo partir para outros lábios
Para que fiques em mim no último beijo
O teu sentimento se vai para outras vidas
Para deixar-te no coração em eterna morada

Se te perco do encontro a paixão inconcebida
Faço de ti a profecia no monge silencioso 
O eterno que medita no teu olhar infindável 
No teu peito toca ao longe a minha triste sina

Se me faço chuva em queda suicida
Nada peço molhando os teus cabelos
Na pele sedento em percorrer teu corpo
Umedecendo a minha secura nos teus lábios 

Se te liberto para eternizar a última poesia
Te aporto no ancoradouro das ilhas morenas
Na tua quietude que o vento arrasta
Os pedaços da rasgada folha que escrevo

Se te faço canção para que morras em mim 
Com outra face dances até a noite enlouquecida
Girando, girando os corpos até a inveja lasciva 
Para que as causas esqueçam os seus mortos

Se te deixo ir como os veleiros silenciosos
Tua face de lua encoste n'outras faces de sol
Te possuirei nas vagas, no voo das aves
Nas lamentações da tua voz ausente

Se te faço fé na escuridão desesperada
Para que sejas a gota na manhã orvalhada
Das terras secas desabrochando em outros leitos  
Poderei partir de mim a tua liberdade eternizada

quarta-feira, 13 de março de 2013

A alma entristecida



川井郁子 Violon Ikuko Kawai - Still Love

A saudade semeia calada no peito
Na dança do fogo a canção do vento
No silêncio trancando os sonhos
Nas frias lágrimas dos mortos

Inquietas almas na ânsia entristecidas
Foge o fantasma do passado tormentoso
Transfigura a vida no futuro espanto
Dos anjos, dos santos e dos profetas

Enluarando a alma esmaecida
A noite repousa em teu corpo
Banha-se nua no corpo de chuva
Abraçando os teus sonhos alados

Nos olhos o brilho de estrelas
Os passos rápidos nas lentas paisagens
Nos caminhos que se fundem na noite
Alguém sofre e outros se divertem

Na cidade adormecida de esperança
Outra estação estaciona fatigada
No comboio enevoado de outono
Os corações guardados de inverno

Ainda que a morte da ira dos justos
Seja o pecado das celestiais promessas
Das maldições sou o rebelado anjo
Na inconsciência maléfica do mundo

quinta-feira, 7 de março de 2013

No silêncio das ruas



川井郁子 - Ikuko Kawai - Les pleurs de l'Âme!  

Morava a tua espera dentro de mim 
No casulo de seda as tuas vestes 
Da tua pele o gosto da chuva 
Dos cabelos o aroma de relva 

Se na distância que te percorro
Emudeço no tempo do primeiro beijo
Despertando a carícia adormecida
O mudo desejo de amar ao outro

Morava o sagrado dentro de nós
Na vibração das chamas um segredo
Condenados na gaiola do tempo
Nas bocas o desejo e o sabor dos corpos

O teu olhar morava dentro de mim  
Respirava no meu olhar inevitável
No tempo ansiado pelos ponteiros
Vibrando estrelas em pulsante brilho 

Inquieta-me a inconstante existência
Do encantamento das seduções
Das promessas e maldições divinas 
Nas preces o terrível milagre da solidão

Quando acontecer essa morte de mim
Essa morte que não se morre na vida do outro
E a vida seguir-te num próprio caminho
Sejas o sorriso no sabor de outros frutos

Sejas ainda o cheiro do vento
No velho silêncio noturno das ruas
Toma a lua à iluminar-te em versos
Para que descubras o sabor do sempre