Paco de Lucía Concierto Aranjuez - Adagio
I
Não posso libertar o delírio
No templo de todas as sombras
O amor que em mim criastes
Na clausura do que sonhei ter
II
Alço o voo de todas as promessas
Nas lágrimas que me sangram
No tormentoso labirinto do tempo
Nas emoções que brotam a pouca luz
III
No obscuro da paixão indecifrável
Sofro a dor nos outros olhos
O triste canto que hás de ouvir
No pássaro que em mim gorjeia
IV
No engano chegaram as mágoas
Nas lágrimas da insensatez
No desespero mortal de uma paixão
A cruel ausência que hoje causas
V
No tempo de agora o sofrimento
De uma serenidade apaixonada
Se encante na luz dos teus olhos
Uma nova afeição tão desejada
VI
Nesta clausura de insuportável dor
Sem poder debruçar nos teus olhos
Atravessastes os mares para perder-me
No desencanto de uma afeição eterna
VII
Na mais vislumbrante canção
Nos lábios os beijos perdidos
Despertos na bonita manhã
Perdidamente deslumbrada
VIII
Nos pulsos em que me corto
A esperança escorre em meu peito
O venenoso amor que agoniza
Da espera que nunca voltas
IX
Quando pousas no meu olhar
A boca dos meus desejos
O cheiro da pele que tu proteges
No vento que em se acaricias
X
Despertas o que vive em meu peito
O fantasma dos mil tormentos
A certeza que me abandonas
No caminho mais longo da morte
XI
Nas pedras que rolam no tempo
Marcando a aspereza das mãos
Deito as palavras que escrevo
Adormecidas na poeira do sempre
XII
Bem sei que nada sabes
O lamentar dos impulsos do coração
Descobrir no prazer da vida
O ódio e a aversão das tormentas
XIII
Se bem sabes que nem sei quem sou
Se o amor existe nas tuas cartas frias
Nas juras secretas do teu amor
Os suspiros, as lágrimas e a minha dor
XIV
Criastes o encanto da delicadeza
Das lágrimas que minh'alma chora
O sabor nas bocas dos pescadores
A doce morte em todos os mares
XV
Na metade do papel em branco
O coração que é teu se comove
Repetindo as mesmas palavras
Loucamente morres em terminá-las
XVI
Fostes nas palavras inacabadas
A saudade dos versos que escrevo
A poesia que desnuda os corpos
O amargo adeus de sermos nós
XVII
O sentimento sincero e ardente
Na metade em branco das cartas
Agonizo o pranto para lembrar-te
Somente no amor sou por inteiro
XVIII
Em fadada sina vier a morte
Nos olhos repousando a mortalha
Furta-me daquele que se aferra
O amor que fui sobre a terra.
XIX
Nunca o saberás do amor
Como a poeira que nos ignora
O que da própria vida transcende
As cartas de amor ao eterno
http://cdn.luso-livros.net/wp-content/uploads/2013/02/Cartas-de-Amor-de-uma-Freira-Portuguesa.pdf
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