quarta-feira, 23 de julho de 2014

"Arte pra mim não é produto de mercado. Podem me chamar de romântico. Arte pra mim é missão, vocação e festa."

Ariano Suassuna 

Ariano Vilar Suassuna (João Pessoa, 16 de junho de 1927 — Recife, 23 de julho de 2014)1 foi um dramaturgo, romancista, ensaísta e poeta brasileiro.

Idealizador do Movimento Armorial e autor de obras como Auto da Compadecida e O Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta, foi um preeminente defensor da cultura do Nordeste do Brasil.

Foi Secretário de Cultura de Pernambuco entre 1994 e 1998, e Secretário de Assessoria do governador Eduardo Campos até abril de 2014.

Membro da Academia Paraibana de Letras e Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2000).

Em 2006, foi concedido título de doutor honoris causa pela Universidade Federal do Ceará, mas que veio a ser entregue apenas em 10 de junho de 2010, às vésperas de completar 83 anos.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ariano_Suassuna

Noturno

Têm para mim Chamados de outro mundo
as Noites perigosas e queimadas,
quando a Lua aparece mais vermelha
São turvos sonhos, Mágoas proibidas,
são Ouropéis antigos e fantasmas
que, nesse Mundo vivo e mais ardente
consumam tudo o que desejo Aqui.

Será que mais Alguém vê e escuta?

Sinto o roçar das asas Amarelas
e escuto essas Canções encantatórias
que tento, em vão, de mim desapossar.

Diluídos na velha Luz da lua,
a Quem dirigem seus terríveis cantos?

Pressinto um murmuroso esvoejar:
passaram-me por cima da cabeça
e, como um Halo escuso, te envolveram.
Eis-te no fogo, como um Fruto ardente,
a ventania me agitando em torno
esse cheiro que sai de teus cabelos.

Que vale a natureza sem teus Olhos,
ó Aquela por quem meu Sangue pulsa?

Da terra sai um cheiro bom de vida
e nossos pés a Ela estão ligados.
Deixa que teu cabelo, solto ao vento,
abrase fundamente as minhas mão...

Mas, não: a luz Escura inda te envolve,
o vento encrespa as Águas dos dois rios
e continua a ronda, o Som do fogo.

Ó meu amor, por que te ligo à Morte?
Ariano Suassuna

O Auto da Compadecida: O julgamento de João Grilo
João Grilo (Matheus Nachtergaele) encontra, em seu julgamento, o Diabo (Luis Melo), Jesus Cristo (Maurício Gonçalves) e Nossa Senhora, a Compadecida (Fernanda Montenegro).

domingo, 20 de julho de 2014

De tão Mestre e Amigo. ele nos deixou um vazio

Bacharel em teologia pelo Seminário Presbiteriano do Sul, em Campinas, Mestre em Teologia e Doutor em Filosofia (Ph.D.) pelo Seminário Teológico de Princeton (EUA) e psicanalista. Lecionou no Instituto Presbiteriano Gammon, na cidade de Lavras, Minas Gerais, no Seminário Presbiteriano de Campinas, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro e na UNICAMP, onde recebeu o título de Professor Emérito. Tinha um grande número de publicações, tais como crônicas, ensaios e contos, além de ser ele mesmo o tema de diversas teses, dissertações e monografias. Muitos de seus livros foram publicados em outros idiomas, como inglês, francês, italiano, espanhol, alemão e romeno.

Com formação eclética, transita pelas áreas de teologia, psicanálise, sociologia, filosofia e educação. Após ter lecionado em universidades, tinha um restaurante (a culinária foi uma de suas paixões e tema de alguns de seus textos), viveu em Campinas, onde mantinha um grupo, chamado Canoeiros, que se encontra semanalmente para leitura de poesias.

Sua mensagem é direta e, por vezes, romântica, explorando a essência do homem e a alma do ser. É algo como um contraponto à visão atual de homo globalizadus que busca satisfazer desejos, muitas vezes além de suas reais necessidades.

"Ensinar" é descrito por Alves como um ato de alegria, um ofício que deve ser exercido com paixão e arte. É como a vida de um palhaço que entra no picadeiro todos os dias com a missão renovada de divertir. Ensinar é fazer aquele momento único e especial. Ridendo dicere severum: rindo, dizer coisas sérias2 Mostrando que esta, na verdade é a forma mais eficaz e verdadeira de transmitir conhecimento. Agindo como um mago e não como um mágico. Não como alguém que ilude e sim como quem acredita e faz crer, que deve fazer acontecer.

Em alguns de seus textos, cita passagens da Bíblia, valendo-se de metáforas. No site A Casa de Rubem Alves encontram-se releituras e discussões de suas obras.

É cidadão honorário de Campinas onde recebeu a Medalha Carlos Gomes de contribuição à cultura.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

"Já estou chegando, ou já cheguei, à altura da vida em que tudo de bom era no meu tempo." João Ubaldo Ribeiro

João Ubaldo Ribeiro
João Ubaldo Osório Pimentel (Itaparica, 23 de janeiro de 1941 — Rio de Janeiro, 18 de julho de 2014) foi um escritor, jornalista, roteirista e professor brasileiro, formado em direito e membro da Academia Brasileira de Letras. Foi ganhador do Prêmio Camões de 2008, maior premiação para autores de língua portuguesa. Ubaldo Ribeiro teve algumas obras adaptadas para a televisão e para o cinema, além de ter sido distinguido em outros países, como a Alemanha. É autor de romances como Sargento Getúlio, O Sorriso do Lagarto, A Casa dos Budas Ditosos, que causou polêmica e ficou proibido em alguns estabelecimentos, e Viva o Povo Brasileiro, tendo sido, esse último, destacado como samba-enredo pela escola de samba Império da Tijuca, no Carnaval de 1987. É pai do ator e Ex-VJ da MTV Bento Ribeiro. Faleceu na madrugada do dia 18 de Julho em sua casa, no Leblon, vítima de uma embolia pulmonar.
 Brasileiro, escritor, professor, jornalista e roteirista. Prêmio Camões (2008).
http://pt.wikipedia.org/wiki/João_Ubaldo_Ribeiro

quinta-feira, 17 de julho de 2014

No lado molhado da noite


Io che non vivo senza te - Chiara Civello - Feat.Gilberto Gil [P. Donaggio , V. Pallavicini]

CHIARA CIVELLO
HOME NEWS BIO MUSICA FOTO LIVE VIDEO
http://www.chiaracivello.com/web/

Perdi-me em seu espaço
Nas distâncias do seu tempo
Percorri tuas constelações
Divaguei no seu movimento

Em seu rosto de amar
Provei das mudas palavras
O pavor dos meus medos
Medos de não saber voltar

Sonhei encantos e teus desejos
Nas tuas curvas de nudez da lua
Na transparência das tuas vestes
Na alma da noite fez-se nua

Agora bebo das suas águas
Os segredos do seu suor
Provei dos insanos desejos
O silêncio infinito das pedras

Na magia dos teus beijos
O amor tem as asas da noite
Pousa suave sobre teu corpo
Onde a minha vontade é a sua

Em cada gota de nossas loucuras
Recebo o gozo da sua essência
Num enlace perfeito e fogoso
Somos o incontrolável obsceno

Na memória dos tantos beijos
Para saber-te em meus braços
Em nossa respiração deliciada
Os olhos estão fechados de amor

No lado molhado da noite
A lua ainda nua em silêncio
Provoca a tua pele ainda suada
Nos seduz n'outros versos insanos

 -- Posso voar de bando pássaros e ser o tempo do meu vento --



O amar dista a água em fonte


Canto Triste [Edu Lobo e Sérgio Godinho]

Em lento espreguiçar das horas
Um vento despetalar outroras
O tramar-se em saltimbanco
No gramar-se em linho branco

Amanhece o dia entre os lençóis
A manhã cede para tantos sóis
Em travesseiros de alfazema
Entraves solitários em dilema

A amada passeia pelo quarto
Acalmada anseia em pranto
Pelos sentimentos loucos
Selos de momentos roucos

Por onde o amor se guarda?
Esconde em dor e aguarda?
Só um colhedor de sonho
Só, num clamor tristonho

Levas ao beiral do parapeito
Elevas juntas mãos ao peito
No olhar distante o horizonte
O amar dista a água em fonte

Radiante em plena esperança
Diante a demora se faz crença
Se esvoaça num beijo pela mão
Se há graça, se no peito há paixão

--Se viver de meias verdades, não viverás o amor inteiro--

terça-feira, 15 de julho de 2014

Porque de repente, se fez paixão


Lenine- Vieste [Ivans Lins - Victor Martins]

Os minutos vão caindo das horas
Colho as curvas em teu corpo
Te recordo sobre o papel em branco
Tão presentes num continuo passado

São loucuras de uma terna saudade
A voz calada ainda em sussurros
Aos doces sabores da sua boca
A solidão me abraça com tua ausência

A esperança desenha no espelho
O aroma e o suor vertem da pele
Sou confesso, te amei ao ver-te
Beijei a paixão dos teus lábios

Sei que a dor de esquecer não perdoa
Como ser o sal sem os teus temperos?
Nas gotas que afloram da pele macia
Me perco onde a sua libido se esconde

Estremeço em sua imagem imóvel
O seu vestido desliza aos seus pés
Teu olhar ainda brilha nos arrepios
O rubro da tua face inda me aquece

Em suas veias só sei os caminhos de ida
Sobrevivente dos pulsares do teu coração
Dos olhos nos olhos no mágico instante
Se me acolhes ao ventre, o prazer é ser teu

O mundo para enquanto teu corpo remexe
Meu vício, nos olhos chorosos os teus desejos
Meu céu obsceno, amorosa em suas vontades
Em mim teimas o desabrochar do coração

No silêncio adormecido ao meu lado
Recolhi todos os segundos da emoção
Vieste em tênue esperança e me entreguei
É a paixão que vive na sua fotografia emoldurada

--Se o mundo caiu dos valores vazios, preciso viver com menos ilusões--


Com o mesmo brilho trêmulo nos lábios


Nem o sol, nem a lua, nem eu [com Maria Bethania e Lenine] por Lenine

A sua voz, qualquer coisa em súplica
Refina na dor a certeza de ser infeliz
O pecado se inocenta em desculpas
Das meias-noites no alvorecer das horas

Insaciável angústia nos devora as maçãs
Pudera ter do espelho o teu outro lado
Além da falsa impressão da felicidade
Te encontrar na origem da tua sombra

Não voltaria do teu rosto junto ao meu
Mesmo que em tua face pálida e bela
Teus olhos se percam no escuro do não
Das noites inteiras de meias-verdades

Dá-me o veneno da dor para ser feliz
Em troca, darei todas as minhas mentiras
Dá-me toda sua intensa angústia indolor
Em troca, viverei em tua metade ilusória

Serei o pagão entre o bem e o mal
O sufoco entre os que sofrem e amam
Aquele que te busca num corpo humano
Terás o mistério das minhas entranhas

Nos renasça de uma célula única
Do princípio dos laços futuros
Sem a dúvida dos amores eternos
A vida se faça renascer em ternuras

Nos dê o ser a cada dia um beijo novo
Sem a ansiedade de um outro amanhã
Com o mesmo brilho trêmulo nos lábios
O amor do futuro nos deixe amar em paz

--Por amor, entrelaçamos nossas meias-verdades e nos fizemos cromossomos--

terça-feira, 8 de julho de 2014

Mesmo que não sobre mais tempo


Zizi Possi - Caruso[Lucio Dalla] e Io Che Amo Solo Te[Sergio Endrigo]

Zizzi Possi
Batizada Maria Izildinha em homenagem à Santa Menina Izildinha descende de italianos de Nápoles, é paulistana do bairro do Brás, típico reduto de imigrantes italianos. De formação erudita, dos 5 aos 17 anos de idade, estudou piano e canto; em 1973 mudou-se para a Salvador (Bahia) com o irmão, José Possi Neto, prestou vestibular para faculdade de composição e regência (UFBA). Após dois anos de curso, abandonou a faculdade e iniciou-se num curso de teatro, na mesma época em que participou da montagem do musical Marilyn Miranda. Em um projeto para a prefeitura soteropolitana, trabalhou como professora de música para crianças — filhos de prostitutas no Pelourinho —, gravou jingles comerciais e participou de especiais da televisão local.
Aos 22 anos, gravou o primeiro LP, Flor do Mal (1978), e o primeiro grande sucesso foi a canção Pedaço de Mim, faixa de um disco de Chico Buarque, autor da canção interpretada num dueto, que também daria título ao segundo álbum da carreira, datado de 1979, no qual outras duas canções se destacariam: "Nunca" e "Luz e mistério".
O disco e espetáculo Um Minuto Além (1981), ganhou o primeiro prêmio, de cantora-revelação pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), Dê um Rolê (1984) e Amor e Música (1987).
Em 1986 lançou aquele que foi um dos grandes sucessos, Perigo, que integrou a trilha sonora da novela Selva de Pedra (Rede Globo), que a torna extremamente popular em todo o país. Em 1989 lançou aquele que é considerado por muitos, inclusive pela própria cantora, um dos melhores discos: Estrebucha Baby — trabalho que marcou o afastamento do padrão comercial radiofônico da época, recebido com frieza e que foi um fracasso comercial.
Com a filha Luíza Possi, e o retorno à cidade natal, São Paulo; em entrevista, disse: mudei de vida, minha relação com minha filha, meu casamento acabou, não como mais carne (não por religião mas porque 'bateu'), não fumo, 'acordava às duas da tarde hoje acordo às 5 da manhã'.
 Editado por Sc@libur 2012 - Claudio Cavalcante Cunha - http://www.scaliburweb.com.br - Piracicaba - São Paulo - Brasil

~.~.~.~

Mesmo que não sobre mais tempo

Nesse teu corpo que aquece e relaxa
Antes que o sono vença teus pensamentos
No som dos ventos assoviando os minuanos
Em teus labirintos percorras a escuridão

A noite sob as cobertas do mundo
Do manto perene das aparências
És aquela que se obriga a ser forte
Cais da inabalável dos olhos alheios

Escolhes as peças no tabuleiro
Para seguir-se em frente
No livre arbítrio ilusório da vida
De um único jogo sem regras

Colho teus desejos tão íntimos
São luzes pálidas pelo chão
São dos milhares de céus
Caídas dos sonhos de amor

Teu corpo estendido na suavidade
De um pouso suave de um talvez
Escorre nos dedos tantos segredos
Impacientes, ávidos pela paixão

São clarões de um tempo
Dos sussurros entre o sol e a lua
Se despe do branco do algodão
Em silêncio, o vazio a espreita

Uma só vez, como se fosse a última
Na sensação profunda da solidão
No fogo ardente dos gravetos do sono
Se confessas calada o que tanto quero

Mesmo que não sobre mais tempo
Espero nas sobras dos teus aromas
Clamo em sussurros a te sonhar gemidos
E pelo olhar o teu silêncio se faça meu

--Se amas com tamanho amor, não sou eu, és tu que me fazes amar--

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Um descrepuscular em poesia


Quase memória [Chico Buarque e Edu Lobo]

Quem nos dera
Se todas as quimeras
Fossem todas primaveras
Transbordassem das auroras
Como um manto sobre o inverno

Quem nos fosse
Se aos todos os pudesses
Em todo drama se antevisses
Se faz dele o que prouvesses
Como um mantra sobre o eterno

Quem nos chama
Se na escuridão reclamas
O tato gélido das damas
Sem o cordial calor nas chamas
Como um anjo foste ao inferno

Quem nos ama
Se no poder proclamas
Se num vigiar reprimas
Ser o amor que vive alfamas
Como nunca descrepuscular interno

Quem nos une
Se na união que pune
Se o ciúme faz o impune
Na acidez corrói imune
Como se alimentasse o subalterno

Quem nos urros
Se não desnuda os obscuros
Se ao revés dos nascituros
Somos um dentro dos muros
Como um não passarinhar alterno

Quem nos ramos
Se em coroa de espinhos vamos
Se na mala um mundo de reclamos
Somos água em ruas de paralelogramos
Como um mágico escorregar no eterno

~.~.~.~

Descrepuscular em poesia
O ser da poesia quando ama
Não são amanheceres, nem auroras
Mas, um redescobri-se em vida

Só pode ser qual renascer em poesia
Como uma moça bonita que se re-encanta
Quando sussurra e canta se retira ao sério
Se fala ao sério num desmanchar palavras

Nenhum termo que não deslize aos braços
Se ama, ama o livre e cuida tanto que o liberta
Se o condenas, o condena em tua liberdade

Se tem um fim, será sempre junto ao recomeço
Se ama amar e de tanto amar a dor ser poesia
Descrepuscular-se é para não morrer em vida