O Meu Guri - Chico Buarque
Pulei o muro do manicômio
Quem se importa como?
Se de dentro para fora
Ou se de fora para dentro?
Só sei que o muro é branco
Um todo branco tudo igual
Um dentro e fora todo fatal
De loucos iguais aos loucos
Alguns tem sonhos brancos
De não saber escrever seus nomes
Carregam as vidas sem história
São enlouquecidos pela ignorância
Outros são os do "faz de conta"
Se nos encontram são soberbos
A vaidade lhes corrói as almas
Se revestem de um branco Lítio
De tão loucos se acham felizes
De tão roucos ninguém os escuta
Sentem uma alegria de três prótons
Orbitam a esperança de três elétrons
Se equilibram em cima do muro
Titubeiam no bolso cheio de pedras
Curvam de risos dos demais loucos
Seriam os tripolares da felicidade?
Outros são amantes de Calipso
Com a toxina botulínica de vaca
A expressão sempre igual a ontem
Nos olhos à contemplação asiática
Querem ser loucos e loucos eternos
Fazer da eternidade uma loucura
Um baile dos diabos dançando com anjos
Deus e o Capeta degustando as pururucas
Sempre misturando cerveja com Litio
Deus e o Capeta estão sempre loucos
Estão sempre apostando na dúvida
Se pulam para dentro ou para fora do muro
Qual louco pensa que é louco?
Quem muito pula, um muro pula
Fica a dúvida. De dentro para fora
Ou de fora para dentro?
Pode ser muito louca a vida
Falam sobre tudo e sobre todos
Dizem coisas até assustadoras
Que a vida é uma loucura passageira
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