Mônica Salmaso - Valsinha [Chico Buarque]
Pelas frestas da janela
No vidro imóvel que resfria
A chuva respinga em aguarela
O beijo que se fingiu presente
Na boca sem resistir a espera
Olhando o teu corpo ausente
O suspirar ansioso se desespera
Na solidão do teu olhar semeio
O beijo da sua boca ausente
Nas curvas da pele que anseio
Espantar a saudade onipotente
Afugentas de mim os demônios
Que atormentam o meu sonho
Comemoram os pandemônios
No adiado desejo que oponho
Deixas beber em teu olhar
A espera de um só lampejo
O suspirar lascivo de amar
No tremulo sabor que almejo
Nos teus olhos o escurecer
Dos lábios o percorrer na pele
Na flor que afago ruborecer
Tuas mãos o agarrar compele
Abrasa o contorno do teu rosto
Na minha pele teu nome tatuas
Dos entreabertos lábios o gosto
No infinito gozo de todas as luas
Acalenta o meu desejo de amar
Na transparência do teu peito
Mergulhas e se faz desaguar
A tua ternura em nosso leito
És a palavra que me condiz
O amor que me regresso
A água que me bendiz
O corpo que me confesso
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