sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Há Palavras que Nos Beijam - Alexandre O'Neill, in 'No Reino da Dinamarca'

Mariza - Há Palavras que Nos Beijam [Alexandre O'Neill, in 'No Reino da Dinamarca'] 
Website Mariza
https://www.mariza.com/

Alexandre O'Neill - O Poeta
Alexandre Manuel Vahia de Castro O'Neill de Bulhões foi um importante poeta do movimento surrealista português. Era descendente de irlandeses. Tem uma biblioteca com o seu nome em Constância.  [19/12/1924 - 21/08/1986, Lisboa, Portugal]
Livros: Poesias completas 
Feira cabisbaixa: poemas 1965
Uma coisa em forma de assim 1980
A ampola miraculosa: romance 1948
De ombro na ombreira 1969 
Anos 70: poemas dispersos Já cá não está quem falou
No reino da Dinamarca 1958 
Lisboa, Cidade Triste e Alegre
Alexandre O'Neill: passo tudo pela refinadora 
Tomai lá do O'Neill  
A relíquia, de Eça de Queirós 
teatro 2002 Made in Portugal. Testo originale a fronte 1978
Filmes: Terra sem Pão
http://www.poetryinternationalweb.net/pi/site/poet/item/4641
http://www.citador.pt/poemas/ha-palavras-que-nos-beijam-alexandre-oneill
~.~.~
o amor só tem um nome

enquando me amo em ti
o amor só tem um nome
breves à vida saberemos 
e ainda te amas em mim

em sopro é que vivemos 
futura vida que desejava
o amor só tem um nome
tu à mim geravas em tua

passo as veredas que sou 
deixa viver algo em mim
o amor só tem um nome
diante meu amor da vida 

deixas seu coração viver
o amor só tem um nome
você esperavas em mim
só nós libertar-me em ti 

envolves que eu te amo
suficientes que nos ame
e todo amor é recíproco,
o amor só sem um nome

correspondidos és nome
o amor só tem um nome
se mesmo quando não é
só há amor por um nome

a alguém que não o quer
amar é dar e o não tenho
o que nunca se tem a dar
o amor só tem um nome

se não for correspondido
só há amor por um nome
há todo amor é reciproco
o amor só tem um nome

no amor correspondidos  
se quando já não é amor
só há um amor reciproco
és quando não me amas 

não tenho nada para dar 
qual tu nada me queiras
enquando amar em mim
o amor só tem um nome

o amor só tem um nome
o passado que nos fugiu
quando não tem o nome
no amor, presente é seu 

o amor só tem um nome

se ainda assim me amas
quando me amo em ti
mesmo que não te ames
o que me amo em ti nada floresce
por amar-se apenas em si
amarei o que em ti me amo
que meu amor em ti te fortaleça
não sofras, farás sofrer o meu amor
se amas e me amarei com seu amor
não morrei no amor que em ti recebo

ah! se eu tivesse o teu amor em mim
ainda assim, é amor correspondido
meu amor só tem um nome
está em ti o amor que eu me amo
então se guardas o meu amor

tudo que sou é o meu amor
como é bom sofrer o amor
que se alarga e se vive intenso
sou o amor nele contido
se transborda, se faz líquido
o amor que o amor se bebe
ser em ti o meu amor contido
o amor que não se pede

negas se o amor não se cabes
por pouco ou muito amor
bebes o nada e o serás
não sei se tu se amas ou se gostas
tens só prazer consigo mesma
a negação de todo amor
o amor só tem um nome
o tempo a tudo devora
ame-se, só aquela que se ama
és capaz de se amar no outro
ai, de mim senão se amas
Serás o meu vazio de amor
o amor, só tem um nome 
~.~.~
“Só há amor por um nome. mesmo quando não é correspondido”
(Jacques Lacan).