segunda-feira, 27 de setembro de 2010
Pintassilgo
Pintassilgo, pintassilgo
Pinta em seguida o amanhecer
Colorindo-o com todas as cores
Mas não cante ainda
Fazendo a noite se calar
E a cantiga do silêncio se abster
Pintassilgo, pintassilgo
Pintalgando o negrune do céu
Deixa fluir da lua o brilho
Refletindo em tuas asas negras
O lume reluzente das estrelas
Pintassilgo, pintassilgo
Gorjea feito um pintarroxo
Cantando em suave trinado
No alvorecer do novo dia
O segredo de ser feliz
Pintassilgo, pintassilgo
Pousa na soleira da janela
Anunciando o raiar da manhã
Desperta na mulher que dorme
No dorso o verde das montanhas
No ventre germina o calor do sol
Pernas sem rosto
As pernas passam
Tão apressadas pela rua
Como num jogo de palitos
Tirando a sorte
Corpos em inércia
Pensamento imóvel
Cabeças sem rosto
Olhos atentos à direção
Olhar sem sentido
O obscuro dia do amanhã
Algumas pernas a mais ou a menos
Novas, móveis, paralisadas, inexistentes
Misturam-se todas no amanhã
São pernas apressadas buscando a vida
sábado, 11 de setembro de 2010
O longe que existe
Num tempo tão longe de tê-la
Pela distância que sobra entre dois corpos
Pelas tantas paisasgens alegres ou tristes
Talvez os inúmeros amanheceres mais fiéis
Que os anoiteceres foram repousantes
Percebo no insistente esquecimento
Entre nós ficou tão longe
O longe que não é saudade
O longe como um lugar que existe
Um lugar como a vida que nos separa